Reflexões acerca da Literatura Virtual
Quando se imaginaria poder ter acesso a tanta informação, sem precisar sair para comprar jornais, revistas, ou mesmo ir a bibliotecas? Lembro-me quando, pequena, após as aulas no colégio, andava bastante para chegar à Biblioteca Municipal e lá passava as tardes lendo tudo o que podia, devorando cada conjunto de letras que formavam estórias que me fascinavam. Havia lido, em casa, toda a coleção de Monteiro Lobato; mas queria mais. Lembrar desse tempo é muito divertido... Como uma criança esfomeada, em busca de comida, lá ia eu matar minha fome de literatura.
Hoje, apesar dos revezes de uma internet ainda lenta, podemos ler as notícias em tempo real, devorar grandes nomes da Literatura brasileira e estrangeira, o que, de certa forma, significa a democratização da leitura. Digo de certa forma, pois num país como o Brasil, de dimensões continentais, as oportunidades não são nem um pouco democráticas. Mas isto não significa que essa realidade não pode mudar. Escolas públicas já têm computadores com acesso à internet, em número razoável. Mais uma vez, falta muito ainda. Mas já é um começo.
Faz-se necessário estimular em nossas crianças a vontade de construírem conhecimento, sendo a leitura o primeiro passo para tal. Sim, ler é importante, mesmo que inicialmente esta leitura se limite a gibis – não desfazendo dos mesmos, pois eles fazem parte de nosso imaginário e, como tal, são essenciais para o crescimento do ser humano em todas as suas esferas. E há uma época para ler gibis, e só gibis – e como as estórias em quadrinhos são importantes na socialização da criança, que ao se identificar com alguns de seus personagens, percebe-se integrante de um grupo, de uma tribo, entendendo, de forma lúdica, que seus medos não são só seus, mas que fazem parte da vida de outras crianças! Desta forma, a leitura se torna prazerosa e estimulante, produzindo uma reação de busca a ela, destronando a mítica de que ler é perda de tempo, simplesmente pelo fato de não compreenderem a leitura. Portanto, ao mudarmos o paradigma da leitura, estamos criando hábitos que invariavelmente levarão nossas crianças a serem futuros leitores adultos, capazes de criar, aptos a expressar suas opiniões e visões de mundo. E isto nos remete à idéia da democratização da leitura. Se formarmos pessoas conscientes da importância da leitura, estas estarão sempre em busca de mais e mais informações que levem ao seu crescimento. Assim, mesmo que ainda faltem computadores na escola, os alunos sairão em busca de locais onde as informações estejam presentes.
Hábito desenvolvido, desejo adquirido.
E aqui volto ao ponto de partida. Através da Internet, a busca pela informação tem resposta imediata. Com o surgimento das “Lan Houses”, então, ficou ainda mais fácil o acesso à leitura, pois a população economicamente menos privilegiada, sem condições de adquirir um micro e muito menos um plano de acesso à Internet, pode recorrer a estes espaços ao invés de ir a bibliotecas e seguir todos aqueles procedimentos burocráticos para retirar um livro. Ter acesso à Internet é bem mais do que fazer amigos; significa poder conhecer o mundo e suas diferentes culturas, assim como ter a oportunidade de conhecer a produção literária existente e acessível on-line. E o hábito da leitura leva à reflexão, que por sua vez promove a produção do conhecimento.
Vamos agora sair de generalizações e entrar na esfera pessoal. Somente no final do ano passado, mais precisamente em novembro de 2006, é que pude acessar à Internet em banda larga. Antes disso, ocasionalmente arriscava uma conexão discada, porém só nos finais de semana, para não onerar ainda mais minha vida.
Como desde muito nova escrevo, na maior parte poesias, claro que meu foco teria de ser a busca por Literatura e Editoras. Foi quando conheci Blocos Online e Leila Míccolis, no comando da Editora junto com Urhacy Faustino. E foi também quando descobri que não deveria me esconder do mundo, pois que até então minha produção se limitava a mim! Logo que Leila respondeu ao e-mail que eu havia lhe enviado, comecei a mandar minhas colaborações literárias. A partir de então não parei mais. Desenvolvi o hábito de refletir ainda mais acerca do mundo, e meu desejo de ler e escrever cresce a cada dia!
Lembro-me como se fosse hoje quando da publicação da Antologia “Saciedade dos Poetas Vivos” digital, volume 4, com o tema “Entre Quatro Paredes”, da qual participo. Digo “participo”, no Presente do Indicativo mesmo, pois acredito que obras digitais não morrem, ainda mais com o selo de qualidade como o da Editora Blocos Online. São produções literárias que ficam eternizadas, pois fazem história. Blocos Online é democrático em todos os sentidos, desde que as obras sejam realmente de qualidade! E este “porém” é que faz a diferença. Assim, colaborar com um portal como Blocos é motivo de orgulho. E quando recebi o convite para participar da Antologia... É um sentimento de realização ímpar!
Não estou fazendo pouco dos livros tradicionais, que tanto nos enchem de prazer. Nada substitui o folhear das páginas! E duvido que exista algum escritor que negue o desejo de ver seus livros publicados no papel mesmo! Mas são sensações diferentes, como se a publicação virtual da obra fosse um prenúncio do momento que está por vir, um primeiro passo rumo à realização do sonho.
Agora vejo a quinta edição sendo lançada, com o tema "Noturnos". Vem uma sensação de perda, em princípio, pois participar da Saciedade é como parir um filho enquanto outros poetas estão parindo os seus, como irmãos gêmeos do meu. Fica o desejo de que eles continuem juntos, brilhando... Aí então surgem mais filhos... São recém nascidos e, claro, alvos de toda atenção. Mas ao começar a ler estas novas produções, este sentimento de perda desaparece, dando lugar ao interesse em conhecer seus filhos mais novos, abraçá-los e lhes desejar boas vindas.
E valeu a pena abrir meu coração para conhecê-los a fundo!
É incrível como uma única temática pode levar a diferentes leituras! São dezessete poetas lendo a noite sob diversos prismas, do mais concreto ao surreal. São leituras macro cósmicas que remetem ao caos humano, que escondem segredos, gritam a desigualdade, mas ao mesmo tempo, na esfera micro cósmica, cantam o amor e o prazer encontrados na noite.
E estas diferentes leituras reforçam ainda mais a certeza da individualidade: nenhum ser é igual ao outro; e são estas diferenças que fazem com que tenhamos de exercitar nossa capacidade de compreensão do ser humano e do mundo, Melodias diversas e sempre ricas em musicalidade.
Márcia Sanchez Luz