Quando decidi voltar de vez ao Ceará, depois de 25 anos em Brasília, onde fundei a revista Literatura, em 1991, decidi também dar por concluído o meu tempo de editor. Entretanto, por insistência de alguns colaboradores, mudei de idéia. O mal, porém, não desapareceu com a mudança de idéia. Falo do mal que tomava conta de mim e me fazia cada vez mais enfastiado. O mal das vaidades, das incompreensões, das maledicências, da falta de apoio. Não de todos nem de muitos.
Desde o primeiro número a revista se editava às custas de alguns amigos. Tentei o sistema de assinaturas. Surgiram cerca de trinta interessados. Ora, o custo final da revista chegava a cerca de três mil reais. Precisaria, portanto, de trezentos assinantes, no mínimo. Nunca busquei patrocínio empresarial, porque nenhum empresário terá interesse em uma publicação de quinhentos a mil exemplares. E concluí: só resta o caminho do associativismo, do cooperativismo. Cada colaborador adquiriria dez a vinte exemplares. Alguns – sobretudo os colaboradores de primeira hora, como A. Isaías Ramires (até o nº 15), Anderson Braga Horta, Aracyldo Marques (falecido logo depois do nº 4), Batista de Lima, Carlos AA. de Sá (até o nº 9), Cleonice Rainho (até o nº 21), Dimas Macedo, Emanuel Medeiros Vieira, Eneás Athanázio, Francisco Carvalho, Francisco Miguel de Moura, Joanyr de Oliveira (até o nº 22), João Carlos Taveira, Jorge Pieiro, Leontino Filho, Sérgio Campos (falecido em 1994) e Uilcon Pereira (falecido em 1996) – alguns aceitaram de pronto o projeto. Mais tarde, juntaram-se ao grupo outros colaboradores, como Alice Spíndola, Ary Albuquerque, Aricy Curvello, Astrid Cabral, Caio Porfírio Carneiro, Clauder Arcanjo, Dilermando Rocha, Glauco Mattoso, Hamilton Monteiro, Henriques do Cerro Azul, Hiirís Lassorian, Jorge Tufic, José Hélder de Souza (falecido há pouco tempo), José Peixoto Júnior (até o nº 23), Nelson Hoffmann, Olney Borges Pinto de Souza, Paulo Nunes Batista, Romeu Jobim, Ronaldo Cagiano, Salomão Sousa e Soares Feitosa.
Os principais colaboradores de cada edição garantiam a quitação das despesas com a gráfica e recebiam vinte exemplares. Os demais (a maioria) recebiam um exemplar e nada pagavam.
Aos que nos procuravam eu explicava como a revista sobrevivia. Algumas respostas chegaram a me causar nojo, como aquela em que o “colaborador” me dizia: “Com trinta reais jantarei uma bela pizza com minha família”. Referia-se a três exemplares apenas.
Recentemente uma candidata a colaboradora me escreveu uma mensagem e me solicitou o envio do boneco da revista. Se tudo estivesse bem (a revisão do texto, a nota biográfica dela, etc), autorizaria a publicação do seu conto. Depois, que eu lhe enviasse um exemplar. E ponto final.
A gota d'água veio com a seguinte mensagem, de um colaborador mais ou menos antigo: “assim que tiver um exemplar disponível, por favor, me mande um urgentíssimo. Quero ver como ficou. Depois, conversamos, faço pedido. Se sair a contento, é claro”. E prosseguia: “conto com três coisas: a) Uma revista que me deixe bem; b) Um preço razoável; e c) um pouco de compreensão na maneira de fazer o pagamento”. Ora, de tudo ele já sabia: do preço do exemplar, da cota que lhe cabia, etc.
Cansado de tantos aborrecimentos, dou por concluída minha missão de divulgador literário ou editor de revista. Literatura chegou ao seu último número, o 32º. Como poucas no Brasil.
Fortaleza, 21 de outubro de 2006.
Nilto Maciel
Fonte: Verbo21 - Cultura e Literatura: http://www.verbo21.com.br/112006/ensaio112006_02.html