DUAS OU TRÊS COISAS QUE SEI SOBRE FERNANDO TOLEDO
Fernando Cesar Toledo de Almeida, Fernando Toledo, Fernandinho , mas a gente, que tinha vaga cativa no seu coração com o nome de amigo tatuado dentro, berrava "Oh, Grilo!" no meio do burburinho e ele olhava.
Onde estava o Fernandinho tinha conversa inteligente, bebida rolando, nenhuma vontade de voltar pra casa e poesia a vontade. Era bom em prosa também. Era bom em música também. Era bom em tudo o que se metia a fazer... Só não pedissem que cantasse, a sua voz era entre o grave dissonante e o urro rouco dum final de noite... Mas como nos encantava quando falava...
Tive o privilégio e o prazer de ter a sua amizade e sei o quanto ela era valiosa. O recebia em minha casa só pra ter aula de graça, e de qualquer coisa que se perguntasse ele entendia... Falava isso pra ele e ele ria seu riso engraçado e me fazia rir também.
Sei que estudou no CEFET de 1982 a 1984, que ousou fazer parte de uma banda de rock "Admirável Mundo Novo", era o guitarrista.
Mas o que mais sei do Grilo é da sua lealdade, sua integridade, sua solidariedade de aturar os amigos "menos dotados de massa cinzenta" como ele chamava, de zoação, alguns do nosso grupo.E sei do quanto era pura a sua alma de menino.
Quando colocava aqueles olhos pra lá de míopes, escondidos atras das lentes "fundo de garrafa", em cima da gente; ao mesmo tempo que nos dava uma geral nos ofertava a beleza e a poesia de uma alma de criança dentro de um corpo adulto e desengonçado demais... Sempre desconfiei que ele não sabia carregar o próprio corpo, era esse o motivo de tanto combustível em forma de bebida, ele sempre tinha muita sede, de tudo.
O inusitado de tudo isso é que quando Fernando Toledo morreu, às nove horas da noite de 08/08/05 (três dias antes, fora atropelado na Muda por um irresponsável em alta velocidade). Estava sem beber, casado e feliz... Eu já tinha percebido que a sua inquietude estava mais mansa, em conversas por telefone ou email. Confortava-me da sua ausência ai vuvim neui afastado que ele estava da Zona Oeste, por saber que ele estava bem, tinha se apaixonado pela Áurea Alves e estava com ela, morando na Tijuca. A vida não o aceitou dentro desta passividade feliz, talvez tivesse, em algum outro lugar do Universo, outra missão inquieta, outros tutelados, outros aprendizes para este meu querido e doce amigo.
Em trinta e sete anos ele viveu um século. Tinha fome de vida! E sabia ensinar tão bem quanto sabia aprender, aquele garoto, que a gente chamava de grilo e ele nem ligava, olhava e sorria aquele sorriso de domar a vida!
Elza Fraga
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