SAPATILHAS DE CRISTAL ***
(À Maria Antonietta Guaycyrús de Souza)
Minha relação com Maria Antonietta deu-se no meio da novela Kananga do Japão, que escrevi com Wilson Aguiar Filho, em 1989. O principal núcleo aglutinador dos personagens era um clube recreativo do início do século passado, nas imediações da praça XV. Como não se pode falar na dança sem homenager Maria Antonietta, mestra das mestras, ela exibiu-se com Carlinhos de Jesus (também seu aluno) em um número inesquecível, em uma cena preparada por mim com muito carinho, durante vários capítulos anteriores, para que, quando acontecesse, desse a Maria Antonietta a relevância que ela merecia. Só a conheci pessoalmente, porém, na entrega do troféu Casal 20, no Clube Sírio Libanês, quando recebemos, eu e Wilsinho, o prêmio de dramaturgia pela novela que ela abrilhantou com sua participação especial. Na platéia, do meu lado, vi o sincero entusiasmo com que aplaudia a nova geração qeu se apresentava naquela noite — a maior parte, alunas suas. E senti, emocionada, seu enorme coração, sua imensa sensibilidade que se expressava através da dança, mas qua transcende a própria arte. A partir daí, nos tornamos amigas, e em 1995 fiz para Maria Antonietta uma peça de teatro baseada em sua vida: Sapatilhas de cristal. É minha forma de expressar a estima e a admiração que dedico a esta mulher extraordinária, que encarna e representa, no mais alto estilo, a dança de salão brasileira de todos os tempos.
Leila Míccolis
*** N.A.: Depoimento publicado no livro "Enquanto houver dança - Biografia de Maria Antonietta Guaycurús de Souza, a grande dama dos salões", de Teresa Drummond, Bom Texto, 2004, RJ.