Abriu um restaurante de dois andares embaixo de onde eu morava, entre as ruas Visconde de Pirajá e Prudente dde Morais.
Às vezes eu ia à praia de manhã, às vezes pela tardinha, para refrescar o corpo e dormir bem à noite.
Não me lembro em qual desses horários, eu voltava da praia, quando, passando pela varanda do restaurante para subir para o sobrado onde eu morava, vi Leila Diniz com um grupo, ali, tomando cerveja. Leila Diniz tinha posto o pé calçado numa sandália, sobre a pequena mesa onde estavam os copos de cerveja.
Eu olhei aquilo, olhei para Leila, talvez houvesse uma censura "besta" em meus olhos... mas Leila me desafiou com a indiferença que lhe era peculiar para todos os seus atos na vida.
Afora o cruzamento de nossos olhares, nada mais aconteceu.
Dentro de uns vinte anos próximos, Leila Diniz morreu num desastre de avião para os lados norte da Índia, e eu fui e voltei, do Sul da Índia até a cidade de Madras.
O restaurante não subsistiu, as únicas coisas que subsistem são minhas preces pelas pessoas que nem pensam na Índia, mas por quem oro sempre me reportando ao "meu templo em Madurai", onde, mantida pelos pequenos blocos de cânfora incendiados na pira do altar principal, está a dedicação da minha vida.
As tardes e as manhãs vem do mar, atravessam a Rua Visconde de Pirajá, e desaparecem sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas.
Leila Diniz e eu, uma vez, passamos pela Índia e morremos lá.
Clarisse de Oliveira