Norma Bengell & eu

Quando Henry Miller me dispensou alegando minha pouca idade e imaturidade erótico-linguística, não me foi surpresa ser barrada pelo porteiro do cinema São Luiz.
"Normas", disse o homenzinho por detrás dos botões dourados e penduricalhos da farda.
Normas? "Não há normas em Norma", argumentei, agora afiada nas artes da hermenêutica.
"Impróprio para menores" o sujeitinho falou apontando uma tarja no cartaz.
Não houve hermenêutica,
nem matemática,
nem física,
nem metafísica,
nem geometria,
nem o mais quântico ilusionismo,
que o convencesse de que treze era pura abstração relativa.
Não vi Norma Bengell emergir nua das águas na sala escura do São Luiz.
O cinema tinha nome de santo e... deu-se o milagre.
Norma deu de emergir sem normas das palmeiras centenárias da Rua Paissandu, dos salões burgueses do Fluminense, e no desandar do andar das mulheres
(outrora enfadonhas) que me rodeavam.
Hoje, passados anos de muita abstração relativa, a tenho amiga, uma amiga sem normas...

Marcia Frazão

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