Moacir Scliar
Acompanhei angustiado a agonia desse grande escritor, dessa figura humana maravilhosa. Penso que pouco poderia acrescentar ao que muitos já disseram.
Prefiro revelar alguns detalhes, extraídos dos nossos breves contatos. Foi quando pude apreciar sua extrema generosidade, ao me encorajar nas minhas ´´aventuras literárias``.
Vi-o pela primeira vez numa palestra na qual comentava sua defesa de tese de doutoramento. Modestamente, disse ter sido ‘coagido' a fazê-lo, pelos seus colegas médicos.
Seu texto sempre primou pela precisão e falta de enfeites.
Ele prefaciou um dos meus volumes de contos (Apetite famélico) e há comentários registrados nas quartas capas de outros quatro livros. Um “selo de qualidade” pelo qual sou-lhe eternamente grato. Vem-me à mente uma troca de mails a respeito de sua última intervenção no meu livro de contos ´´O desmonte de Vênus``. Nesse ele elogiou as qualidades de um ´´escritor expressivo da nova geração``. Quando agradeci e lembrei-lhe que acabava de completar cinco bar-Mitzvas, (65 anos, para os menos versados), ele retrucou afirmando que, na verdade, por ter apenas 10 anos de prática, estava ainda longe da primeira. Difícil ser mais gentil.
Depois de uma maratona em Porto Alegre, nos encontramos e, após elogiar-me pelo feito, deu-me uma bronca paternal ao me ver acendendo meu inseparável cachimbo. Trocamos idéias, contei-lhe ´´causos`` das minhas corridas – ele ficou impressionado quando lhe narrei a epopéia de Zoe Koplowicz, uma americana, portadora de esclerose múltipla, que concluía a maratona de NY em mais de 24 horas – feito que cheguei a presenciar – chegando ao Central Park no dia seguinte ao da largada, cercada de batedores, como convinha a uma heroína.. Um ano mais tarde, na sua crônica sobre a maratona na Zero Hora, ele citou essa proeza.
Sempre gentil, jamais deixou de responder aos meus mails, sempre encorajando, enviando energia positiva, que tanta falta me fará.
Reverencio a memória desse homem notável e por tantas razões imortal.
Alexandru Solomon