2 mil toques

Sempre digo, e não só eu, que “escrevo 24 horas por dia”. É aquela coisa de estar antenado no que pode virar literatura: pessoas, cenas, ambientes, frases, histórias, cheiros, sabores, toques, memórias, piadas, atos falhos, viagens… A qualquer momento pode rolar o estalo que vai iniciar um novo conto, resolver o andamento de outro, iluminar um enredo meia-boca… Tenho o caderno na mochila, mas podem ser úteis os tradicionais guardanapos de papel, folheto de publicidade, folha de guarda do livro em uso…

Essa é a fase lúdica da escrita.

O bunda-na-cadeira-mãos-no-teclado-olhos-na-tela-branca é a parte operária. Esta carece de mais atenção, até por que há muito mais coisas para se fazer (não que sejam, sempre, mais importantes/interessantes), como cuidar do cão, namorar, beber, ler, manter o emprego remunerado, ver tevê, visitar o mundo virtual, passear, viajar, ver amigos e familiares, olhar paredes…

Como sou, por natureza, distraído, quando vou escrever preciso criar ao menos duas condições especiais, através de esforço: me concentrar (no texto, no conteúdo, na demanda externa, quando há) e preparar o tempo em que ficarei ao computador.

Que é, sempre, pela manhã. Se for o caso, posso me levantar às 4 da madrugada; mas também posso começar às 8… fundamental é que seja a primeira atividade do dia. Nunca é um round muito longo. (Quase) qualquer outra coisa pode me distrair e eu acabo postergando a escrita para a manhã seguinte. Porque depois que o dia civil começa, literatura continua a ser tudo aquilo que mencionei antes (a vida) menos a escrita.

Sérgio Fantini

Fonte: http://2miltoques.tumblr.com/post/90350530712/sergio-fantini-sempre-digo-e-nao-so-eu-que

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