Seis anos... Eternidade de um meigo piscar de olhos. Um jogo de paciência no qual por vezes acreditei estar blefando a mim mesmo. Perdi a conta das infindáveis idas e vindas à copiadora. Ainda assim dupliquei minha perseverança. No mais real dos sonhos adotei o sulfite como vício e virei vampiro do nanquim. Transportei ninfas e faunos dos confins da imaginação para os atalhos do papel. Você, franco atirador, fuzile a opção desejada: boas vindas, habeas corpos ou deporte-os para o limpo cultural que o Sistema (?!) instituiu. Se acha que errei, tudo bem, ninguém é perfeito, nem o pretérito.

Tempos atrás eu espalhava poesia poesia e crônicas ao relento. Na primavera de 90 floresceu-me um nome, também ao relento: Pax. Vieram os amigos literários, os heróicos irmãos dos alternativos e fanzines. Gente que sabe que escrever é respirar, e o texto, a mais sublime forma de oxigenar. Pois bem, entrei neste front. Besti mil máscaras, encarnei mil papéis e, três anos após a publicação de Paz nº 0 (o qual sinceramente espero não ter sido um zero à esquerda), o fanzine ressurge das cinzas. Há quem sugira a mudança do nome para Fênix.

Não há periodicidade definida. E daí? Qual o problema? Afinal, meus sentimentos também não a tem. Nosso país também dá pena. Ocorrem-me personagens bravios que preenchem mundos vazios. É o rapaz da xerox que se emocionara com alguma poesia despretenciosa, mas preciosa. É o colega escritor que, apesar da distância, encurta-a com versos amigos. É a carta que caprichosamente escolheu para ser lida sob a atmosfera fria de um ônibus urbano, rumo à madrugada — tuaregues que somos, só agora recebemos essa carta. Enfim, abro a mensagem daquele amigo a quem só conheço por versos...  E o poeta escreve dizendo que está com câncer e assim finaliza seu pergaminho moderno: "Sem mais para o momento, pedimos pensamento positivo, orações por nós, muita paz".

Pax!.. Preencha sua vida com muita gana. Faça bom uso de seu livre arbítrio. É o melhor jeito, com certeza, de estar ajudando um menestrel.


Márcio J. de Mello

 
 
 

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