Riqueza verde e marrom
Nasci no asfalto.
Minhas energias foram ressarcidas das pedras. E sempre amei aquele movimento
de carro e de vida porque era o meu mundo. O mundo que conheci, com toda
a sua agitação generosa e frenética. Incrivelmente
perturbadora e ao mesmo tempo deslumbrante, em que não existem monotonia
e tranqüilidade.
Mas um dia quando menos esperava
desvendei o segredo da própria natureza e pus-me a pensar, crédula,
que ali existia um mistério. Que se compunha do verde-azulado da
plantação e o marrom da terra que gera tudo que podemos sonhar
em vida e produção. Imaginei-me rica e com um tesouro inigualável
que pegava com minhas mãos que só conhecera até então
o superficial que a cidade grande recebia vinda do interior. E quedei-me
silenciosa a divagar.
Sentei-me uma tarde num degrau da escada
no quintal da minha casa e comecei a sonhar com a vastidão da natureza
que na verdade, eu pouco conhecia. Cheguei mais perto num simples canteiro
de plantas e senti no tato a terra que se esvaia entre meus dedos, deliciosa
na sua aspereza, escura e forte. E olhei em volta de mim o pouco de verde
plantado como é possível numa casa em um bairro do Rio de
Janeiro como Copacabana. Cimento por todos os lados contra um pouco do
rasteiro verde. E mesmo assim meus olhos ficaram concentrados naquela cor
que me trazia a imagem da natureza.
Andando em volta passei a ver que não
era apenas o céu, as estrelas e a lua que eu amava em meus devaneios,
mas que faltava os elementos que eu acabara de conviver superficialmente
como o verde-azulado da plantação e o marrom da terra para
que eu pudesse realmente me completar.
E jamais esqueci quando passei
um dia pelo Jardim Botânico, bairro que eu amava desde criança,
e que eu resolvi entrar para me compensar da ausência desses elementos
essenciais e pelos quais estava ávida. Muitas vezes desde aí
precisei da natureza verde e marrom como uma fonte inesgotável de
energia e fortaleza, procurando muitas vezes lugares que me reintegrassem
ao seu ambiente e enchessem meus olhos de vida na paisagem verde marrom
que eu aprendi cedo a amar.
Hoje essas cores fazem parte de
minha alma e de meus cantos. Como se sem elas eu não pudesse sobrepujar
as intempéries naturais e o vigor se transmitisse diretamente por
simbiose. Admirando a minha natureza maravilhosa, os rios em seu ritmo
absorvente, os lagos mansos, todas as espécies de plantas e flores
existentes, o mar gigantesco que faz-me orgulhar-me de tudo que foi
criado e cujo poder me acalma e conforta, não posso deixar de sentir-me
emocionada ao apreciar o verde-azulado da plantação que nos
dá a riqueza de frutos e alimentação regida pela sábia
natureza e o marrom cheio de vigor que faz com que a seiva se multiplique
e transborde .
Verde e marrom, as
cores sábias e produtivas que espargem por nossos campos fecundos
e dão-nos a certeza se bem cuidados e distribuídos
que ninguém precisará passar fome ou sofrer com a falta de
dignidade da miséria.
Vânia Moreira Diniz