ALTA PRIORIDADE

          Acompanho os esforços para ser equacionado o problema do lixo, num dispêndio de tempo e energia, com resultados tímidos. O problema já estaria solucionado se saíssemos de dentro de nossos umbigos e nos déssemos conta de que tudo é uma questão pronominal: o mundo não sou “eu”, somos “nós”. “Eu” passo pelo mundo mas “nós”, isto é, a coletividade, continua mesmo sem mim. O lixo tem sido um grande pesadelo, que se tornará maior à medida que o tempo passa. Os aterros sanitários envenenam rios e córregos num grau insustentável, vinte e sete vezes maior que o tolerável. Isso é assustador e deveria bastar para que as soluções aparecessem.
           Os lixões, ao contaminarem lençóis freáticos pouco profundos, fazem com que a infiltração no solo se espalhe com rapidez, pondo em risco toda uma região. Multas, por conta da inadequação dos lixões, não resolvem nada. As soluções devem ser práticas e rápidas. A meu ver, a melhor delas é a real implantação do serviço de coleta seletiva do lixo para sua reciclagem eficiente, o que reduzirá o volume de detritos. Diminuído o volume, haverá mais espaço, fôlego e dinheiro para o tratamento do lixo residual. Os profissionais especializados certamente querem evitar os problemas de saúde que a degradação ambiental acarreta à população, pois sabem que essa ameaça deve ser evitada. O ideal é que haja, em todos os prédios, a separação e coleta do lixo limpo, o que desafogaria o lixão da cidade. A coleta feita atualmente, não obrigatória, é muito tímida face ao universo tão grande de prédios e pode acabar no lixão, também. Penso que a solução possa estar numa lei que faça todos se adequarem às necessidades urgentes de hoje; é uma questão de sobrevivência que pede ação abrangente e eficaz, que deveria ter começado ontem. A cidade de Santos, com tão pouco espaço físico, merece uma visão mais ampla de futuro. É possível haver uma lei municipal que incentive, de alguma forma, todos os prédios a separarem o lixo para a coleta? A Prefeitura fará sua parte no recolhimento racional e contínuo do material reciclável, em parceria com ONGs, casas assistenciais e associações de catadores de papel, por exemplo. Será essencial a parceria entre a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e o Sicon (Sindicato dos Condomínios do Litoral Paulista), ao qual, salvo engano, todos os prédios são filiados.
          Uma ampla e contínua campanha de conscientização ambiental a curto e médio prazo, com o envolvimento de toda a mídia, será bem-vinda. Talvez assim consigamos entender a abrangência e a necessidade desse exercício básico de cidadania. Ou, talvez, estejamos esperando uma ação mais firme do poder público, já que a maioria da população não sabe que o lixo é uma fonte geradora de renda e que, em questão de desperdício, somos campeões. Pobres campeões! Desperdiçamos o nosso lixo e, ainda, causamos danos à natureza. Sei que não é fácil essa mudança de atitude. Mas, se nada fizermos, seremos, em breve, “engolidos” pelo lixo que produzimos, tal como num filme de terror. E correr atrás do prejuízo será pior. A obrigatoriedade da reciclagem, através de ações bem planejadas, bem coordenadas e bem executadas, trará resultados positivos a esta causa urgentíssima. Os responsáveis pelo gerenciamento público têm duas alternativas: o lixo ou nós. Creio que estamos na faixa de alta prioridade. E, ao contrário de São Tomé, sei que é preciso crer para ver o problema solucionado.

Neiva Pavesi

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