SALVEM AS ALGAS AZUIS

O que tenho a lhes dizer hoje é gravíssimo. Por favor, providenciem para que essa notícia seja amplamente divulgada a todos os seres viventes. Eu disse todos os seres viventes, sem distinção de raça, credo, política e nem mesmo de espécie. Também os animais, da terra, das águas e dos ares devem ser alertados. Comuniquem inclusive os seres renegados ao mundo das lendas: elementais, fadas, duendes, bruxas e bicho-papão. Digam pra Cuca que pega tudo, vir pegar essa notícia e levar para o mundo dos contos de fadas. Que as matas e as florestas espalhem essa descoberta para todos os espécimes. Que o anoitecer transmita ao dia, e o horizonte ao infinito. É urgente, é de incomparável prioridade que isso chegue ao conhecimento de todas as criaturas.

Encontraram inscrições antiguíssimas, anteriores às das Cavernas de Altamira, e após muitos anos de estudo, finalmente revelaram o teor profético dessas inscrições. Deus (ou outro nome que se dê a essa Força Poderosa) recolhe todas as lágrimas derramadas pela dor. Qualquer dor... Seja a da miséria, do desespero, do abandono ou da solidão. A dor da fome, do preconceito, da aniquilação. A dor da decepção, da guerra... A dor da marginalização.

E vejam o que acontece com essas lágrimas: Após serem recolhidas num cálice de ouro elas são levadas ao fogo da purificação. Ao serem apresentadas ao fogo, a água evapora e no fundo do cálice permanece apenas um resíduo: o SAL. O cálice sagrado então é lavado, e o sal das lágrimas vai para os oceanos. Isso alivia a dor e sofrimento. Esse conhecimento ficou perdido, mas pairou no inconsciente coletivo do planeta durante todos esses milhares de anos. E muito provavelmente é daí que saiu a expressão: chorar alivia a dor e “lava” a alma.

Então, baseada nessa descoberta fantástica, eis a todos a importantíssima advertência: O oxigênio que respiramos, diferente do que muitos imaginam, não vem das matas e florestas, mas sim dos oceanos. É produzido pelas maravilhosas algas azuis, ou cianofícias. E é este o grande problema: Toda vez que Deus lava um cálice de dor, uma quantidade de sal é acrescentada aos mares e oceanos. Isso causa um aumento da salinidade e uma enorme ameaça às algas azuis. Então, a Natureza, pródiga em seu instinto de preservar o que nos garante a vida, derrete as calotas polares. Assim, esse gelo derretido, é incorporado às águas e reequilibra a relação água/sal na terra. Foi uma decisão tomada pela Natureza após o que ocorreu com o Mar Morto. Foram tantas lágrimas derramadas em disputas pelo poder e domínio de pedaços de terra, que toda a vida desse mar feneceu, por não suportar tamanha salinidade. E a salinidade continua aumentando, porque as lágrimas não param de rolar em Israel, Gaza, Palestina, Cisjordânia e outras terras ali por perto.

Preocupante... Muito preocupante! Porque tem muita gente sofrendo! E não é só lá nas redondezas do Mar Morto. O fenômeno atinge todo o Planeta. Muitas lágrimas estão sendo derramadas! Muito sal... E para diluir tanto sal, enormes geleiras precisam ser derretidas, e isso pode elevar o nível das águas no mundo todo! Amigos, por favor, atentem para a gravidade dos fatos!

Imaginem as calamidades que podem ocorrer. Países inteiros podem desaparecer, e não há alternativas! Porque é preciso salvar as algas azuis! Então, estamos numa situação delicada e de real emergência. Precisamos secar urgentemente essas lágrimas! Acabar com a miséria, a fome, a tortura e todas essas coisas que fazem as pessoas chorarem. E não estou falando em fazer isso por AMOR nem tampouco por SOLIDARIEDADE. É por egoísmo mesmo: evitar a elevação das águas, salvar as algas azuis, garantir nosso oxigênio e a nossa sobrevivência!

Ajudem a secar lágrimas! Salvem as algas azuis!

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Notas da Autora:
Na Gruta de Qumrãn, próximas ao Mar Morto, foram encontrados manuscritos os quais muitos ainda não foram traduzidos, e cujos conteúdos não foram revelados. No Talmud, um livro que reúne citações de rabinos de todos os tempos, há uma advertência aos homens: “Cuidado quando fazeis chorar uma mulher, pois Deus conta suas lágrimas” . Em algumas culturas orientais, as mulheres quando choram recolhem suas lágrimas em pequenos frascos. Independente das explicações para esse costume, suponho que, inconscientemente, elas tentam evitar que o sal de suas lágrimas seja derramado nos mares.... Fernando Pessoa, num momento de sublime inspiração, diz o seguinte, em um de seus mais célebres poemas: “Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal – Por te cruzarmos quantas mães choraram... “. Teria ele tido a mesma visão que tive? Especulações à parte, essa crônica é uma ficção. Qualquer semelhança com o mundo real é mera coincidência. Mas por medida de segurança, não custa nada secar algumas lágrimas. Quem pode garantir que meu delírio não seja verdade?

Vera Morais

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