SER ÁRVORE
Que bom é ser árvore, contra o vento, a chuva, o sol e o frio, com sua força constante e inconstante (ou, talvez, consciente) sem nenhum temor à vida — e nem à morte — nos seus momentos, nas suas horas que passam calmas, mansamente.
Seu corpo é um, uno, único e vários ao mesmo tempo, e de belo porte: um tronco, muitos braços e mãos, mil espinhos se tem flores e aroma; que bela sorte sentir-se cheia de dedos e unhas — que são suas ramas e folhas —com a pele verde, que é a cor do cainho (da esperança). Sempre o mesmo rosto tranquilo, forte, que no corte duro do machado e no fio de aço do longo facão e do fino canivete (que grava declarações de amor jovem e corações flechados), ela grita e chora a sua seiva e resina, que são o seu sangue e as lágrimas, por causa da dor, moléstias e a morte.
Dar proteção é o destino de sr árvore...
Com lenha, estacas, vigas e tábuas, ela sabe quando faz sombra ao homem — seu assassino.
Dilermando Rocha
Do livro: Jardim Esquisito, Achiamé, 2001, RJ