Natureza e homem: amigos ou inimigos?
Aldoux Huxley, em conferência no princípio da década de 1960 ("A situação humana", edição póstuma), expôs sua posição sobre a pergunta acima a um seleto auditório de jovens.
Apontou alguns movimentos humanos, particulares ou governamentais, que se deram em compasso harmonioso e amável com a natureza. O resultado só poderia ter sido um passo positivo no curso da evolução da humanidade.
Entretanto, já naquela época, registrou que a maioria dos atos poderia ser definida como atos inimigos da natureza. Desmatamentos, que já se iniciavam, em várias partes do mundo, com suas negativas consequências climáticas e alterações mortais da flora e da fauna. Muitas espécies já começavam a desaparecer. A importância dessas espécies foi vista depois, quando se constatou que protegiam a natureza de predadores. Não pelos homens, mas por uma minoria de cientistas, muito pouco ouvidos.
Começava aí a guerra do homem contra a natureza. Guerra surda e altamente prejudicial ao primeiro. A fraqueza passou a tomar conta de nosso planeta, despojado de seus mantos naturais, que não foram efeitos, mas causas de nossa evolução. Os desertos, pontos adversos no mundo natural, passaram a crescer. Os polos, extremos sensíveis do organismo, como nossos dedos, sentiram.
O "equívoco" dos governos fiscalizadores foi cardeal. Se atingimos esse ponto admirável de conhecimentos científicos, tecnologia, bem estar social, inteligência formidável de uma espécie, foi em razão de uma conduta histórica de empatia com a natureza. Bastaria tal constatação a ver-se que não poderíamos nos desviar do caminho certo.
Todavia, o homem impune tomou o rumo contrário. Desde esses tempos de Huxley, começou a brigar, pôs-se na condição de inimigo da natureza, matando, em larga escala, árvores para o aproveitamento de madeiras, extinguindo espécies raras para fazer casacos, emitindo poluentes que comprometem os pulmões do corpo natural.
Em notícia do momento, o jornal britânico "The Guardian" revela as péssimas condições a que são submetidos animais de corte, vacas, ovelhas etc, que saem da UE em cubículos de navios, são chutados, torturados, erguidos pelos pés quase mortos, e que chegam a seus destinos distantes (Turquia, Croácia e outros países), amontoados e cobertos de fezes, muito embora várias manifestações judiciais, sempre teóricas, dos Tribunais europeus, tenham procurado preservá-los.
Essa inimizade entre o homem e a natureza é um misto de crueldade dos racionais e do "non sense" e fez rarear os pontos da terra cobertos de vegetação nativa, que foram nossa "célula máter". Insurgimo-nos contra nossos próprios pais e irmãos. Somente nos últimos tempos passamos a nos preocupar com o clima, um dos efeitos necessários da natureza, em conferências internacionais que o aloprado Trump desconsiderará por completo. A vitória desse homem não fez só os americanos derrotados, mas também os "ecobobos" e seu habitat. Vejamos o futuro.
Em suma, a resposta do conferencista, que conjeturara "O Admirável Mundo Novo", nos alerta de que devemos procurar o desenvolvimento, melhorar as condições de nossas vidas, porém em parceria amistosa e amorosa com a natureza. Se esta for vista como um "fator de produção", que devemos destruir para nos apropriarmos economicamente, eticamente cuspimos no próprio prato e, historicamente, decretamos nosso fim, com o fim da casa onde moramos e de nossa família ampla, como talvez já tenha ocorrido em outras civilizações do imenso cosmos.
Amadeu Roberto Garrido de Paula