Rosinha de Valença descansou. Não despertou da vida vegetativa de 12 anos (!!!) em que entrou depois de duas paradas cardíacas, como expressou o compositor Paulo César Feital em sua “Luz Valenciana”. Na madrugada de ontem, deu seu último suspiro, deixando registros históricos, em discos, que a consolidaram como um dos nomes mais importantes da moderna música instrumental do Brasil. Que assim digam grandes músicos que com Rosinha trabalharam, a exemplo de João Donato, Copinha e Sivuca.

Aliás, foi justamente com Sivuca que, em 1977, Rosinha de Valença fez um dos melhores (para muitos, o melhor) espetáculos do projeto Seis e Meia, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Ainda bem que foi gravado, ao vivo, e está disponível em selo BMG, num repertório que tem “Feira de mangaio”, “Asa branca” e “Adeus, Maria Fulô”.

(Abro este parêntese pra lembrar os dias do “Fino da bossa”, liderado por Elis Regina, em que, cá na Paraíba, freqüentávamos as casas de Políbio Alves e Pedro Santos, e no meio do som que escutávamos estava o violão de Rosinha de Valença).

Uma brasileira cosmopolita, na linhagem de Tom Jobim e outros gênios da emepebê, Rosinha de Valença seguiu a rota internacionalista que vem de Carmen Miranda à atual consolidação de Caetano Veloso com “A foreign sound” - passando por Sérgio Mendes, Jorge Ben, Sivuca e Djavan. Tanto que, depois de acompanhar Maria Bethânia no antológico “Comigo me desavim”, Rosinha passou um grande tempo tocando em países como a então União Soviética, Israel, Itália, Suíça, Estados Unidos e África do Sul, onde formou o grupo Ipanema Beat, com o tecladista inglês Duncan Mackay, conseguindo uma fusão exótica de jazz, samba e pop, registrada em disco cuja capa ilustra este texto.

Retornando ao Brasil, em 1973, Rosinha trabalhou com Marília Medalha, Ney Matogroso, novamente Maria Bethânia, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila, Miúcha, e foi responsável pelo melhor disco de Wanderléa (“Feito gente”).

Quando Paulo César Feital ainda tinha esperança de que Rosinha saísse do estado de coma, escreveu: “Um dia ela adormeceu / E nunca mais despertou / E dizem que Deus voltou / Vestiu-se de onipresença, / E todo dia Ele chora, / Todo dia a mesma hora, / Sentado na nuvem imensa. / Quem sabe cantando agora, / Não possamos emanar / Um canto pra despertar / Nossa Rosinha de Valença!”.

Não deu, Paulo César. Não deu, Políbio Alves, Wellington Farias, Moacy Codeceira e tantos outros fãs de Rosinha no Brasilzão que vê renascer o Projeto Pixinguinha.

Como na própria “Asa Branca”, que ela tocou com Sivuca, “adeus, Rosinha”.

Fonte: Coluna publicada no Correio da Paraíba, de 11/06/2004: <http://www.correiodaparaiba.com.br/ecoisas.html>. Enviado pelo autor Carlos Aranha

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