JOÃO DE DEUS

Angelo Giuseppe Roncalli (João XXIII), Giovanni Battista Montini (Paulo VI), Albino Luciani (João Paulo I) e Karol Wojtyla (João Paulo II). Estes são os papas da minha vida.

João XXIII era considerado um líder inovador. Enfrentou resistências - que ainda persistem – para trazer modernidade à Igreja Católica, pelo Concílio Vaticano II.

Paulo VI era mais austero. Seu papado transcorreu num período complexo, política e socialmente falando, marcado pela Guerra Fria, manifestações estudantis, liberação sexual...

João Paulo I, o “Papa Sorriso”, foi breve como um suspiro. Diziam que tinha um grande coração! Mas que não resistiu a um infarto, e partiu poucos dias após sua singela coroação.

João Paulo II foi a surpresa: o “Papa que veio do frio!”. A consubstanciação do personagem Kiril Lakota, protagonista do romance “As Sandálias do Pescador” (1968), de Morris West. Até o prenome é parecido!

O jovem Karol foi artista e participou da resistência à ocupação nazista em sua terra natal: a Polônia. Sua vocação religiosa foi natural e não um projeto. E era duro ser padre em meio ao ateísmo marxista. Os adeptos do “ópio do povo” - como os comunistas ortodoxos classificavam a religião - eram perseguidos e aprisionados sem trégua. Não era diferente na Polônia, mas a forte tradição católica daquele país representava uma resistência que o domínio soviético nunca conseguiu quebrar. O cardeal Wojtyla também estava lá!

Sua escolha como Papa foi uma agradável surpresa: Um sinal de internacionalização da Igreja Católica, rompendo uma longa tradição de pontífices de origem italiana. E ele assumiu essa função neomissionária com amor e tenacidade. Viajou o mundo em busca de reaproximações, fez retratações históricas, buscou diálogo... Em suma, assumiu sua condição de servo de Deus e homem do povo. Inegavelmente, sua atuação teve papel significativo no processo de distensão leste-oeste e na busca da paz mundial!

João Paulo II abandonou a comodidade e proteção da Cidade do Vaticano para se expor e expor sua mensagem de paz. “O Papa é pop!”. Mas nem todos estavam preparados para ouvi-la e entende-la... Um tiro quase lhe tirou a vida! Não tirou, mas transformou-a, a partir de então, numa longa e dolorosa agonia.

Às seqüelas do atentado juntaram-se o Mal de Parkinson e os efeitos da idade.

Ao ver seu sofrimento mesmo quem não era católico sentiu-se comovido por tanta fé, dignidade, resignação e empenho em dar sentido e valor a cada segundo da vida.

Muitos acreditavam que ele deveria renunciar, mas ele teve consciência de que isso teria desdobramentos de enorme complexidade e, por isso mesmo, imprevisíveis. Sua lucidez foi absoluta e expressiva, mesmo no silêncio de sua voz!

João Paulo II resistiu, insistiu e persistiu, como sempre fez ao longo de sua vida! Assim deveríamos fazer todos nós: Celebrar e respeitar a vida, mesmo quando ela periclita, se esvai ou parece não ter mais sentido ou função!

Sua fragilidade física aparente e sua agonia prolongada só realçaram sua imensa fortaleza espiritual.

Todos os dias, os meios de comunicação anunciavam: “Últimas notícias do Papa!”. Hoje, 02/04/05, ouvimos, consternados e impotentes, o anúncio de sua morte...

Ele partiu para o merecido descanso, de uma vida laboriosa e profícua. A tristeza que sentimos é um reflexo do carinho e respeito que ele granjeou durante seu papado.

É verdade que João XXIII trouxe modernidade à Igreja... Mas João Paulo II, seguramente, a tornou mais humana!

Adilson Luiz Gonçalves

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