Tessituras

     Conheci o Professor Doutor Latuf Izaias Mucci, recentemente, em Buenos Aires. Sua comunicação àquele Simpósio Internacional proporcionou deleite
e entusiasmo a toda comunidade universitária. A mim, especialmente.

     O gostoso sabor da comunicação latufiana multiplica-se, agora, quando me debruço - em diagonal - sobre alguns dos seus livros. Na qualidade de apaixonado por Ciência e Arte, o mineiro de Saquarema carrega estudos feitos nas universidades de Louvain e Roma, atuando como professor de vários
centros acadêmicos do Brasil. Figura encantadora, tão sedutor quanto o próprio Roland Barthes, de quem fui aluna (Latuf também) na Alta Escola de Estudos de Paris.

     O interesse desse jovem pensador por ciência e arte manifesta-se, de pronto, em INTERLÚDIOS, antologia por ele organizada. Tendo como trabalho de
abertura mais uma aula do Prof. Dr. Affonso, Romano de Sant'Anna, a coletânea dá espaço a temas pouco explorados, escapando, pois, do ensaismo estereotipado.

     Advertindo que a pesquisa não procura "jamais obter respostas", Latuf elege temática atualíssima e apresentada por docentes nacionais e estrangeiras. Daí, os fecundos escritos sobre comunicação transpessoal, tecnicismo, mercado, pitboys, heterogênese etc.

     Dois ensaios despertaram-me um frisson barthesiano. Doutor Affonso, em "A arte na hora da revisão", continua questionando a queda das axiologias e propondo um rigoroso balanço dos equívocos pós-modernos. Excelente reflexão.

     Já o Doutor Latuf, em "O Corpo de Mário de Andrade e a cidade de São Paulo: signos estilhaçados", comprova o "desafio permanente ao logos, ao eros, ao pathos e ao ethos". Ensaio instigante sobre o corpo-cidade poetizado por Mário. Latuf, faz encantadora leitura da semiose estética; eu bailo e jogo na cidade revisitada por Latuf. "Vivendo, mais que desvivendo..."

     Outro livro organizado pelo semíologo Latuf Mucci é PALAVRA FATAL: nova coletânea demonstrando a boa cabeça dos mestrandos da Universidade Federal Fluminense. Aqui, os signos puxam signos e a metodologia plurissignificativa de Latuf enforma, sem dúvida, os estudos reunidos.

     Maravilhosa mesmo é a obra RUÍNA & SIMULACRO DECADENTISTA. Tem-se uma super-competente análise de Il piacere do D'Annunzio, onde Latuf problematiza o decadentismo, vincando as teias do simulacro e/ou "a morte das aparências". Além de trazer bela contribuição às questões do real na literatura, o autor associa, ao fenômeno decadentista, atualíssimas considerações sobre prazer, paixão, dandismo, androginia etc.

     O discurso de Latuf faz-se mantra. Seu conhecimento crítico causa desejo ao leitor comum. E, com todos os riscos de minha inter/intra/textualidade, tenho como grand-finale, a tensão hedonistica e a estética de vertigem... Melhor direi: o alucinante ímpeto de reler Latuf! Barthesiamente.

Elizabeth Marinheiro

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