UM GRANDE BRASILEIRO
Não foi propriamente uma surpresa quando o amigo José Pastore me comunicou a morte do empresário Antônio Ermírio de Moraes. Ele já se encontrava doente há tempos, mas sempre é um choque quando se está diante da triste realidade da perda de um grande brasileiro.
Conheci o diretor da Votorantim nos tempos da Manchete e cheguei a entrevistá-lo no meu programa de televisão, num domingo à noite, quando ele discorreu sobre a realidade da nossa economia. Foi uma apresentação original, pois pediu giz e quadro-negro, para ilustrar o que dizia com gráficos expressivos. Parecia um professor com pleno domínio do seu mister.
Depois, ao falar na FIESP, num seminário sobre Educação Ambiental, tive a alegria de encontrá-lo na plateia. O tema era do seu interesse. Terminada a palestra, ficamos conversando por uns bons minutos. Ele defendia a tese de que as nossas escolas faziam muito pouco pelo assunto e era preciso ampliar o alcance dessa saudável preocupação.
Fiquei espantado ao tomar conhecimento de que Antônio Ermírio de Moraes resolvera dedicar parte do seu tempo à arte dramática. Engenheiro metalúrgico, formados Estados Unidos, dirigindo um grupo industrial com mais de 50 mil funcionários, como arranjaria tempo para se dedicar ao teatro? Mas não é que ele fez três peças, todas encenadas, como a que aplaudi na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP)? Chamava-se “Brasil S.A.” e foi uma apresentação atraente, abordando temas da conjuntura nacional, como as dificuldades vividas pela nossa população em relação ao atendimento à saúde. Tudo com graça e diálogos agradáveis de ouvir, daí o sucesso da inovação. Ele estava presente na noite em que fui (parece que ia sempre) e tive o ensejo de apertar-lhe a mão, ao final do espetáculo, realmente de grande valor artístico.
Filantropo de mão cheia, haja vista a imensa dedicação ao Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, encontrou energia para se dedicar também ao Centro de Integração Empresa-Escola, da qual se tornou membro emérito, graças aos seus valiosíssimos conselhos, no trabalho de consolidação do que é hoje a maior ONG brasileira, já tendo assistido a mais de 15 milhões de jovens estagiários. Ermírio era fã incondicional do CIEE.
Em relação à Academia Brasileira de Letras, foi também um grande amigo. Ainda no tempo de Austregésilo de Athayde, ao lado do irmão José Ermírio, criou o Prêmio Senador José Ermírio de Moraes, destinado a obras literárias, que está sendo distribuído anualmente a escritores de nomeada. O valor (90 mil reais) é dos mais elevados em termos de premiação. Além disso, quando Athayde resolveu criar um Centro Cultural no Solar da Baronesa, em Campos dos Goytacazes, forneceu todo o cimento para a obra, de forma gratuita, como um mecenas assumido. Nacionalista em todas as suas atitudes, Antônio Ermírio de Moraes fará falta à cena política brasileira e certamente deixará saudade.
Arnaldo Niskier