LOUCOS

O louco vaga pelas ruas, apressado. Parece ter destino certo. mas não tem. Olhos fixos sempre para frente, nunca olha para os lados ou para trás. Segue sério e confiante; mas confiante no quê?
Hoje, sentou no banco da praça, curvado e pensativo! Uma mulher, que também era louca, se aproximou. Costumava vagar pelas ruas, blasfemando. Às vezes pedia água ou comida; depois jogava tudo fora.
Enfim encontrou alguém para brigar sem ser o vento. Deu início à discussão, agitando o dedo indicador sobre o nariz do outro. Ele não gostou e revidou os gritos, pondo-se agilmente em pé. Ficaram discutindo e se movimentando como se dançassem capoeira. Anjos invisíveis os protegeram; e ficaram só na dança. Súbito ela foi embora e ele fez o mesmo, em sentido oposto.
Pobres loucos que vivem no desamparo. Porque, quem é que tem coragem de mexer com um louco?

 

O BEIJO DO LADRÃO

A primeira vez que Pedro roubou foi num supermercado. Era um pequeno pacote de bombons. Levou-o para casa, deu um bombom para mãe e comeu os outros dois.
A mãe saboreou o bombom e aplaudiu a conduta errada do filho, incentivando-o a outros furtos.
Os objetos roubados eram sempre recebidos com alegria.
O tempo foi passando e Pedro foi se tornando um ladrão cada vez mais ousado, mais exigente e mais experiente.
Um dia, já adulto, foi parar na prisão. A mãe foi visitá-lo, em lágrimas, e Pedro pediu para lhe dar um beijo. Quando ela aproximou o rosto, por entre as grades, Pedro, em vez de beijá-la, mordeu o nariz dela, com força. A mãe recuou com um grito de dor.
-- Por quê você fez isso, meu filho?
-- Porque é por sua causa que hoje eu estou na prisão. Se você tivesse me repreendido na primeira vez que eu roubei eu não teria me tornado um ladrão.

Nair Lúcia de Britto

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