Olho no espelho procurando os traços de meu pai. Em vez do seu rosto ou o meu, vejo-me bem pequeno, tentando escalar aquele terno azul marinho, querendo chegar mais perto de seus olhos e de seu cabelo acinzentado. Minhas pernas tentam se enroscar nas suas, minhas mãos pequenas agarram-lhe o paletó. Com distraídos gestos, ele me afasta.

Não sei o que senti quando ele morreu. Todos me cumprimentavam, dizendo que ele era um grande homem, e que agora o homem da casa era eu, e logo seria o presidente da empresa.

No dia seguinte chorei horas. Nunca entendi por quê. Só sei que doía.

Dizem que me pareço com ele. Pode ser, quando as espinhas secarem e meu cabelo branquear. Mas, não quero parecer com ele.

Não quero ser empresário.

Meu sonho é ser alpinista.

Maria Ester Rodrigues Esteves

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