Uma vida, várias histórias
Fabiana de Castilho
7º capítulo
Atualmente minha
vida se divide em duas partes: Solidão e Desilusão. Os remédios
voltaram a se fazer presentes em minha rotina e atualmente são meus
melhores amigos e me ajudam a seguir neste caminho que eu mesma trilhei
e de onde não encontro forças para sair. Sinto-me encurralada.
Sei que não sou nenhuma coitadinha e o que estou passando, nada
mais e do que a lei da ação e reação. Gostaria
de poder apagar a escolha que fiz, mas minha vida não e um quadro
onde se pode corrigir os erros com um simples apagador. Estou tentando
aprender com os erros para deixar de repeti-los.
Enquanto tento, fico contando as horas para que ele não
volte para casa e fiquemos o menos possível juntos. E, às
vezes, quando eu estou com ele e ele começa a dizer coisas ou quando
começa a me tocar e vejo a expressão em seus olhos, tenho
vontade de sair correndo porta a fora, gritando e sumir na imensidão
deste mundo. Só que não posso fugir. O corpo e a razão
não me deixam, me mantêm nesta realidade, enquanto a alma
grita por socorro e por sua liberdade, encarcerada nessa matéria.
Meu espírito está doente e chamo esta doença de câncer
da alma. Um câncer que foi chegando sorrateiramente, que encontrou
um corpo que não ofereceu resistência para sua instalação
e onde encontrou um solo bastante fértil para ficar. Foi caminhando
em silêncio ate encontrar a direção para a alma e,
ali, instalou suas raízes mais profundas, causando os maiores estragos.
Ganhou uma força aterradora e sugou quase tudo o que pode encontrar
a sua volta, deixando no lugar um vazio difícil de ser recuperado.
Já não faço mais planos e os sonhos parecem
ter terminado. Hoje, quando penso no amor, que talvez nunca tive ou soube
dar, tenho vontade de chorar. Eu sempre imaginei o amor de uma forma total,
plena e que não pertencia somente a vida material. Sempre vi este
sentimento como algo muito maior, como um sentimento tão forte,
puro e verdadeiro, e que aumentava dia a dia, até sua explosão
por não caber mais no peito. Um amor pela vida, para a eternidade
e que ninguém pode duvidar. Incondicional, universal e que vive
sem pedir nada em troca. A fonte de toda a energia, de onde tudo começa
e onde termina. Só que estou começando a pensar que tudo
não passou de uma utopia, uma ilusão que criei em minha mente
e que não condiz com a versão proposta pela realidade, que
e muito mais pe no chão.
Viver e com certeza a mais difícil de todas as provas
de uma existência e talvez seja por isto que tenhamos a morte. Que
ela seja um prêmio de consolação pela difícil
tarefa de viver. E a certeza de que tudo vai chegar ao fim. E diante deste
fato temos a escolha de esperar por ela e desejar que nunca chegue, ou,
ter a coragem dos grandes que sabem a hora exata de se retirar, se negando
a continuar como marionetes manipuladas diante do que muitos chamam de
destino. A opção de passar para o lado dos imortais que não
tiveram medo de decidir cerrar as cortinas do palco de suas vidas. O merecido
descanso da alma tanto tempo aprisionada pelo corpo.
Eu particularmente não encaro o suicídio
como uma forma covarde de resolver os problemas ou como uma fuga. É
preciso muita coragem para decidir algo assim, principalmente diante de
tantas pressões e teorias de que a vida não acaba. Acho que
as pessoas que acreditam em uma vida além desta são meio
perturbadas, masoquistas. Eu particularmente espero que as teorias estejam
erradas e que não seja preciso voltar. Se for desta forma, eu passo
minha vez para quem queira. Não estou dando conta desta existência,
para que vou querer outra? E pensando bem, é preciso muita coragem
para viver ou tentar... Pelo menos a quem se interessar.