Pessoas inteligentes e famosas se revezam na mídia chamando a gente de golpista. Acusam uma nebulosa "oposição" de inviabilizar o governo com denuncismo e sabotagem, fomentando a crise institucional, a desmoralização do sistema e o populismo catártico.
Puts! Não me sabia tão mau. Agradeço a pecha (até meio romântica, já que a alternativa é ser mesmo otário) e pondero que tudo bem, mas chantagem e hipocrisia não são exclusivas de minha torpeza jeca. Pois eu, o brucutu albanês, sou menos patético que essas ratazanas fisiológicas disfarçadas de anjinhos inocentes.
Cúmplices da mentira cambial, das compras de votos e das absurdas privatizações, hoje atacam, vejam só, os "oportunistas que querem poder a qualquer preço". Pedem que ignoremos a corrupção, pega mal lá fora, não nos exaltemos, existe uma agenda a cumprir - desde que FHC continue a governar por decreto. Democratas que são.
Que "agenda"? Aliás, vender patrimônio público estratégico àqueles que nos prejudicam no comércio internacional não lhes parece "insensatez"? Gastar bilhões em propaganda para destilar bizarras teorias conspiratórias não seria, digamos, demagógico? E quem atribui o colapso energético à falta de chuvas pode chamar alguém de jeca?
Tolinhos. Novatos em democracia, estuporam quando o poder ameaça trocar de lado. Perderam a simpatia do público, afundaram na própria leviandade e agora defendem uma saída "propositiva", longe da atrasada esquerda sem programa, que por sua vez só critica e não ajuda. Ah, então a culpa é nossa.
Ardil antigo e roto. Celebridades e empresários influentes se reúnem há décadas em convescotes modernosos, bebericando submissão cosmopolita com petiscos de austero continuísmo e afinando o discurso da estabilidade que requer sacrifícios. Cômodas alianças lhes garantem uma aura de realismo administrativo. Mas, quando o consenso vira rancor, frustradas as tradicionais falcatruas de véspera, tentam minar a transição política com esse tipo vulgar de patrulhamento.
Golpistas são esses descarados. Nós, os ogros fanáticos, temos nada a ver com as suas excentricidades. Apocalípticos e polemistas de ocasião, fossem dignos e conseqüentes, poupar-nos-iam do lamentável espetáculo.
Guilherme Scalzilli