Até que ponto os ventos são simplesmente alternativa?

Classificar como Fontes de Energia Alternativas as fontes "limpas" e  renováveis, que a natureza nos oferece, soa para os meus ouvidos como  uma classificação interesseira e pejorativa, dados os benefícios que ela proporciona e a realidade emergencial que vivenciamos.

É desconexo ver a pauta ecológica permeando discussões em todos os âmbitos pelo mundo afora e, só se fala em gás, carvão e, por vezes, até energia nuclear na Câmara de Gestão da Crise de Energia. Estas são fontes limitadas como água, e de alto impacto ambiental.

Basta uma passada de olhos pelos jornais para descobrir dados curiosíssimos; em Sorocaba, possuímos uma fábrica de centrais eólicas que exporta sua produção para o mundo todo, principalmente a Alemanha – de potencial Eólico consideravelmente menor que o nosso. A Alemanha, por sua vez, nos vende todas suas velharias nucleares, fonte de Energia desprezível por lá; em nome dos incentivos à produção de energia, o Ministro da Fazenda, Pedro Malan, informou que o governo está desonerando do PIS-COFINS o carvão e o gás natural, usados para geração de energia e recomendará aos secretários estaduais da Fazenda, que concedam isenção de ICMS para todas as "saídas" de gás natural destinados à geração de energia, ao passo que ainda é mais barato produzir uma central eólica aqui, exportar para Alemanha e importá-la, em seguida, para o Ceará que a comercializará no território nacional, em função da tributação bisonha existente.

A tendência à energia eólica deste artigo, ignorando outras fontes, se justifica pela extensão do tema Energia Alternativa, considerando também do valor normativo dessa fonte – teto de custos reconhecido pela ANEEL para autorizar as distribuidoras de energia reajustarem as suas tarifas – que são de R$ 112,21 o MWh, contra R$264,12 MWh da solar e R$ 106,40 o MWh para termoeléctricas que produzam até 350 MWh. Vale lembrar que a energia térmica não é renovável e tenciona água, fatos certamente não considerados pela ANEEL ao estipular esses valores. O alto valor normativo de outras fontes, a exemplo da solar, afasta os investidores, pois deixa os custos do consumidor final em níveis que ultrapassam a limitada realidade econômica do país.

A capacidade eólica do Brasil, já verificada em vários estados, é tão animadora que trouxe investimentos na ordem de US$1 bilhão em projetos que vão gerar mais energia que Angra 1. No nordeste por exemplo, podemos citar os alísios, ventos de uma regularidade tranquilizadoras não verificados na Dinamarca, Alemanha ou Turquia, países que já iniciaram a produção comercial de energia eólica.

O dinheiro será investido pela empresa especializada em fontes de energia renováveis Siif Energies (francesa). O diretor de novos negócios da empresa no Brasil, César Aguiar, informa que todos projetos estarão em pleno funcionamento em 2003, gerando 1.000 MW (megawatts) - contra 657 MW de Angra 1 . Ao todo, são 6 projetos dessa empresa, sendo 5 no nordeste e um no litoral norte fluminense, aguardando junto com mais 5 projetos de outras iniciativas, autorização da ANEEL para sair do papel.

Para César Aguiar, o valor normativo estabelecido pela ANEEL "é razoável", em termos de retorno. Mesmo com a indiferença da Câmara de Gestão da Crise de Energia em relação a energia eólica, ele aposta no crescimento da demanda por energias "limpas". "A energia hidrelétrica é mais barata, mas gera muitos problemas ambientais, afeta muito o ecossistema.", disse Aguiar ao Jornal do Brasil. Quando perguntado sobre os riscos do negócio? "Tem mercado para isso ainda que chova.", afirma, taxativo.

A avaliação do potencial dos ventos no Brasil pode trazer surpresas agradabilíssimas e ecologicamente corretas. Basta um olhar mais comprometido com as necessidades que com interesses para notar.

Renato de Brito


 

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