"Coitado, vai ser
professor"
"sem ainda ter produzido teoria famosa, renunciavam à
glória e iriam apenas dar aulas ['coitados']"
(FHC, Cf. Folha online, 28.11. 2001)
Nunca estive lá, no Institute for Advanced Study, em Princenton
(EUA), no meio de "pessoas selecionadas". Fico pensando: Princenton (como
sugere a raiz da palavra) deve ser um lugar de pessoas de qualidades superiores.
Um lugar muito bonito, invejável pela qualidade de vida de seus
habitantes.
Gostaria de expressar o mesmo sobre Pindorama, minha terra das
palmeiras. Um terra bonita, de uma beleza tanta que sofre com a cobiça
e com o "mal-entendido" em "tom simpático" dos seus governantes.
Apesar da qualidade de vida, Pindorama é um entre-lugar de estudos
avançados; mas poucos se dão conta disso e como se não
bastasse passam pela vida repetindo que não temos F, nem L, nem
R. 500 anos não bastam para cultivar o respeito às diferenças?
Na aldeia temos N, de Nhanderú que é Deus. Nessa aldeia jorram
a capacidade de inovação e a imaginação criadora
de professores e pesquisadores indígenas em permanente busca de
uma terra sem males, no dia a dia de aulas de vida produtiva.
Nunca estive lá, no Institute for Advanced Study, em Princenton,
no meio de "pessoas selecionadas". Também nunca estive no
condado de Chipping Sodbury, na Inglaterra, terra natal de Joanne Kathleen
Rowling, uma tímida professorinha de 36 anos, que vivia de uma pensão
de US$ 100 dólares e mal conseguia pagar o "kitchenet em que morava".
J. K. Rowling é criadora do personagem Harry Potter - "um garoto
com poderes mágicos" e com o qual a professorinha se identifica
de tanto que deseja e luta "para melhorar as coisas" (Cf. o Estadão
online, em 28. Nov. 2001).
Fico pensando na capacidade de inovação, criatividade,
tempo de dedicação exclusiva, na postura interdisciplinar
do professorado, do bolsista e pesquisador universitário brasileiro.
Sou parte desta espécie de professorinhas "vetustas", cidadãs,
pesquisadoras, beirando à longevidade por teimosia, resistência
e luta. Entre os "coitados" me incluo. Que eu saiba, somos uma espécie
em extinção ignorada pelos governantes. Apesar disso,
Quixote vive assim como Harri Potter existe porque a autora "queria alguém
para falar, só isso" (Cf. Estadão, op. cit.).
Sendo assim, ao cientista, ao pesquisador, ao professor/educador não
importa o "ter um nome na praça" no sentido do termo empregado pela
"angústia" palaciana. Que eu saiba, as lições da praça
dão conta de que a cidadania é uma das faces do Condor.
Em Nhanderú perdoamos a quem nos tem ofendido.
Graça Graúna (*)
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(*) Professora, membro da comissao
de Direitos Humanos/UFPE
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