ARGENTINA: UMA REPUBLIQUETA? *

Se analisamos alguns aspectos sociais e políticos que levou ao resto do mundo  visualizar Argentina como um ponto de resistência a globalização, como uns dos paises que gerou um forte movimento anti-globalizador depois dos acontecimentos de dezembro de 2001, com assembléias populares, resistência dos chamados “piqueteros” na tomada das estradas mais importantes do pais, com revoltas de tipo revolucionárias, chamadas de “puebladas”, com panelaços e com intentos de democracia direta, a Argentina não é uma republiqueta em sua totalidade. Porém, se olhamos de que maneira o capitalismo financeiro se apoderou da terra do tango, que começou com o ministro da economia da ditadura militar, Martinez de Hoz, no ano de 1976 e culminou com o peronismo de Menem que roubou e afundou o país por completo, se olhamos que os responsáveis por essa tragédia ainda estão enquistado no poder e tramando as futuras eleições para que todo siga igual, para que nada mude, então sim, a Argentina é uma republiqueta.
Hoje, identificados os responsáveis o importante é que não sigam ditando as normas, e é dever de cada argentino derrotar a velha política que permitiu ao capital especulativo  destruir o Estado e torná-lo pequeno, capital que é inimigo da produção e do consumo que levou o mercado interno a falência.Os velhos políticos representantes das oligarquias regionais e os novos surgidos dos acordos com as empresas multinacionais, transformaram a política numa corrida de enriquecimento pessoal, convertendo-se  em seres servis e cúmplices das empresas financeiras.
Na Argentina ao contrario do Brasil, não existiu um capitalismo industrial com interesse nacional, ao não existir esse capital que foi derrotado pela especulação, a corrupção e a ditadura militar com seus assassinatos, desaparecimentos e exílios, abortou o desenvolvimento operário.
No Brasil o surgimento de Lula é produto da consolidação de um projeto capitalista industrial encarnado por Delfin Neto, um capitalismo nacional que tomou distancia da especulação financeira e não mediou esforços  para criar um mercado interno. Criado-se este mercado, o capitalismo nacional precisou  de duas coisas: operários para trabalhar em suas industrias e uma população com razoável poder aquisitivo.
O Estado, longe de querer ser pequeno, ficou a serviço desse projeto e o defendeu da banca internacional estrangeirizante e desnacionalizadora. Da banca que não aceita paises industriais e apenas procura espaços territoriais para suas inversões.
Por esta razão se explica que na chapa do novo PT convergem um operário, Lula da Silva e um poderoso capitalista , José Alencar, líder do capitalismo da produção e não da especulação, que justamente por isso acompanha na candidatura presidencial a um amigo de Cuba e um opositor ao ALCA.Lula e Alencar crêem que vão encarnar um projeto nacional, uma revolução produtiva, crêem  que a classe operaria e o capitalismo nacional vão derrotar os poderes financeiros internacionais e especulativos.
A união entre o candidato operário e o candidato capitalista dentro deste contexto dominado pelo feroz capitalismo imperial, deve tornar essa união não impossível, mas muito difícil, porque quando os operários do Presidente operário comecem a exigir mais do que o pacto estabelece, em virtude de que o capitalismo nacional é injusto como todo capitalismo e quando o império do norte reconheça que o grande pais da floresta amazônica poderá tomar vôos impensáveis com um presidente operário, seguramente a banca internacional apertará, sufocará, fará imposições contra o projeto social, contra a esquerda com medo de uma radicalização comunista  e nesse momento o capital nacional não ficará de lado do presidente operário e sim da banca internacional, do lado do império, a não ser que o presidente operário deixe de ser operário.
O possível futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se pretende levar o projeto de revolução produtiva até as últimas conseqüências devera arquitetar vários planos B, para poder  safar-se da gula do império especulativo do norte.

* Baseado  em um artigo do jornal Argentino

Héctor Pellizzi

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