O Pan-Provocador Abujamra

(Ensaio para um ócio de ódio óbvio sem ópio)
 

Com ele não é fácil. É uma no cravo e outra na envergadura. Bocudo e extremamente lúcido. Fora do sério é fora de série. Figura meio Mefistófeles, meio gnomo, meio homem-rã. Incrível no crível. Boca do inferno uma ova: a unanimidade é turva. Se as uvas  estão verdes, ele é raposa de spot-light. Mussum-naímico. Um Adoniran de rédeas soltas. Chulo nos chistes, sério no improviso,   alegre, topa tudo por encrencas das grossas. Sorte nossa.

Para alguns, ele não existe de verdade. É foto-montagem. Para outros é desbocado no seu talk-show. Avis rara. Quase uma bananeira que já deu goiaba. Perigoso no seu tatami-palco. Sob holofotes, só se salva pelo fogo fátuo. Com provocações, torna inteligente a tevê burra-decadente. Periga ver.

Ama ser odiado. Imaginação superior. Canastrão de oficio. Self service. Mas nada ególatra feito um tapuia depois da lepra. A palavra é sua navalha na acne. É um palco-ator. Inteiriço é o signo de uma geração. Existem ostras? Efêmero pela própria desnatureza. Julga-se um armário de coisas embru/tecidas... Acredite, se quiser. A coxilha por testemunha.

Respostas prontas. Fala antes de pensar. Aliás, fala antes de falar. Se não fosse ele, estaria órfã a TV Cultura (idéias, idéias).  De longe cheira seda nova. De perto, sai de baixo. Um velho que oxigena idéias novas. Um ator-apresentador que, aleluia Brecht, faz sentido.

A produção é o improviso. Jazz-palavras. Diverte-se com o sério. Ri da sensatez. Afinal, as paredes têm ofídios. Tudo o que lê, parece ser epidérmico. É suportável, portanto. É meio pétreo, é meio pan na mixórdia geral. Enxerga longe o lado avesso do ser. Cai de boca na cumbuca dos infames, literalmente falando.

Conhece a barbárie da espécie. Proíbe o termo humanus-humus. Um arauto pós-moderno em tempos de insano neoliberalismo que globaliza a ignorância pudica. Nada a calar. Muito pelo contrário.

Toma Lorax 2 e fala fácil. Destila venenos saradinhos. Provoca, provocador, provocante. Parece aloprado quando é ríspido na bucha. Mas é mágico no magno. Manteiga derretida, sabe que a palavra é fascista (citando Roland Barthes) mas, parecendo que tem uma pulga atônita atrás da orelha, enreda-se pelos labirintos dos desperdícios verbais, feito um ícone. Lambisgóia espeloteada? Calou e disse.

Parece bisontino que sabe técnicas de vôos. Diz que adora ser pisado. Carga e coragem?  Inspira cuidados, mas não quer ensinar porcaria nenhuma, nem feito xerox imagética. Não quer ser um PHDeus xarope. Dispensa comentários. Ácido, cíclico, tem ternura sem perder a vivacidade. Muitos minutos de lama ao vivo. Na fuça. Clarabóia.

Sabe dos indigentes. Sabe dos analfabetos. Bate sempre na mesma técnica: não ter técnica alguma. Serpenteia bravo, pela estética/ética do teatro tupiniquim.  Mama as havências. Gracezas, prazeiranças, altas voltagens. Cospe nas etiquetas, arrota pros ibopes, urina nos intervalos. Gente mais maior de grande?

Acima do peso, é leve como um imã. Não querendo ser medíocre, não tem medo de ser Ser. À meia-luz todos os gatos são fardos? Acha que a televisão babaquara é um rascunho saranga. Põe o dedo na ferida. Sangra o sumo. Deve achar a cicatriz um pé no sacro. Ordenha entrevistados. Pega todos pelo verbo. E a nosotros passa o sabore-delícia da falação por atacado. Tudo a ver.

Para uns, não existe mesmo. Para outros, é invenção virtual. Mas tem cheiro e azedumes. O crime da espécie o que é? Provocar-nos uns aos outros. Deita falatório. Acorda lampiões. Ilumina a escuridão, feito um Lao-Tse brasileirinho & brasileiríssimo.

Falando sério, perdão leitores, mas acho que o Antônio Abujamra é invenção do, talvez, Nelson Rodrigues com síndrome de Plínio Marcos. Um gibi a seco. Talvez ele só exista mesmo na nossa consciência neural.

Provoca. Provocações. Ações. Ocas. Provo. Ovo. Vocações. Cações. Depois ainda dizem que ele, o Abujamra, no com-textualizar, quer analisar o óbito da perversa mente humana. Humana vem de húmus? A minha parte eu quero em ensaios de laminas cegas nos oráculos vencidos pra consumo.

A palavra é cega mas ainda acorda.

Silas Corrêa Leite

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