Quando nos vemos envolvidos a refletir, buscando compreender melhor
toda a implicação do Programa de Segurança Alimentar,
não podemos deixar de familiarizar-nos com a cultura de nosso povo,
uma vez que norteará de modo contundente, os caminhos que deveremos
trilhar.
Tantas vezes já ouvimos a frase "o homem é aquilo que
come", que é imprescindível que façamos algumas considerações,
se desejamos realizar um trabalho eficiente e eficaz, que perdure e produza
frutos, de tal sorte, que as gerações futuras possam beneficiar-se.
A alimentação esboça de alguma forma a identidade
de um povo. Se observarmos o comportamento das pessoas, seus hábitos
alimentares, o ambiente em que vivem, as escolhas que fazem em seu cotidiano,
podemos ir delineando o perfil deste povo, e compreender as variáveis
que atuam sobre ele, interferindo em sua qualidade de vida.
Chamamos de Patrimônio Cultural a herança, o acervo que
um povo acumula e que é revestido de significados agregados no decorrer
das vivências através dos tempos. Portanto há, sem
dúvida, também um Patrimônio Alimentar, que é
reconhecido ao verificarmos o procedimento no tocante a maneira de ingerir
alimentos. Assim, iremos encontrar alimentos tradicionais, que fazem parte
intrínseca da rotina alimentar; encontraremos alguns ligados à
época e outros que se caracterizam pela contingência.
É possível conhecer um pouco de um povo, estudando-se
a natureza de sua alimentação. Por intermédio dela
podemos ver expresso alguns indicadores que nos contam a respeito do grau
de educação e percepção deste povo.
O Brasil foi palco do nascimento de uma população miscigenada
no decorrer de sua história, tendo como traço característico
à peculiaridade cultural, por ser fruto de sincretismo.
Podemos considerar que o fato de europeus, africanos, e outras raças,
estarem presentes na formação do povo brasileiro, tornou-se
um dos fatores da diversidade que encontramos na cozinha brasileira. Some-se
a estas influências, a dimensão territorial de nosso país,
apresentando contrastes ambientais, diversidade de clima e especificidades
regionais.
Além disso, existe hoje um fator que não se pode desconsiderar.
A Globalização. Ela representa, de maneira genérica,
a crescente integração das economias e das sociedades dos
vários países, causando impacto considerável na difusão
de informações. Sendo assim, ela interfere de modo direto
e indireto, em quase todos os aspectos da sociedade, inclusive no contexto
nutricional de um povo.
O próprio modelo social, característico da modernidade,
oferece um panorama diferenciado, onde encontramos novo formato familiar.
Não mais o tradicional feitio, onde um provedor era responsável
sozinho por esta função, e os papéis dos demais membros
da família se distribuíam sob a orientação
direta da responsável pela educação dos filhos e gerenciamento
do lar.
Hoje além do provedor, outros membros da família precisam
trabalhar. O número de separações, por razões
que não discutiremos neste momento, aumentou sensivelmente nas últimas
décadas, diluindo e mesclando os núcleos familiares, de modo
a criar uma dinâmica do cotidiano, diferente da que existia anteriormente.
Tudo isso é vertentes de procedimentos relevantes dentro desta conjuntura
que é objeto de nossa atenção. Todos estes fatores
interferem no comportamento humano, e conseqüentemente nos hábitos,
inclusive alimentares.
O fato de grande parte das pessoas alimentarem-se fora de casa, de
forma rápida, provocou o surgimento de novas modalidades de refeição.
Ligeiras, práticas e econômicas, tendendo à conveniência
em detrimento da qualidade nutricional no consumo alimentar.
Ainda devemos levar em conta a possibilidade de acesso aos alimentos,
não se podendo ignorar que para grande parte da população,
os alimentos encontram-se fora de alcance, por razões econômicas,
além de outras sócio-ambientais.
Dentro deste cenário perverso, onde o ritmo acelerado nos obriga
a negligenciar aspectos relevantes a saúde, ao direito pela qualidade
de vida, ainda somos atropelados pelos efeitos devastadores da comunicação
em massa, onde o estimulo para o consumo direcionado por interesses de
alguns, é realizado de maneira subliminar de tal modo que, as pessoas
disto não se dão conta, e vivem na ilusão de que são
elas que fazem determinadas opções.
No entanto, não podemos ser ingênuos imaginando que se
possa voltar no tempo, ou ignorar a realidade do presente. O que nos cabe
é um novo olhar, uma compreensão madura e realista, para
que possamos atuar da mesma forma e assim enfrentar o desafio que estamos
determinados a superar. Implantar um Programa de Segurança Alimentar
em todo território nacional, para que tenham todos a mesma oportunidade
de conquistar uma vida melhor.
Propagar a Educação Cidadã, penetrando em todos
os setores e espaços da sociedade, pois sabemos que, primeiro muda-se
a maneira de pensar, e só então se altera o comportamento.
Investir na Educação Alimentar, que junto a Cidadã,
consolidará valores e procedimentos que permitirão a criação
de um novo modelo social, adequado à época e realidade, porém
preservando a qualidade de vida.
É imperioso que enfrentemos esta questão. Vale acrescentar
que existem apetites diversos que procedem do ser humano.Se nosso objetivo
é extinguir a miséria, e, por conseguinte a fome, há
que se levar em consideração que o Homem tem uma diversidade
de fome. Ele busca saciar o apetite de sua mente; abastecer seu coração
suprindo-o de emoções que lhe são inalienáveis
e alimentar seu corpo oportunizando o vigor que lhe permite usufruir a
vida material, e só assim conquistará o equilíbrio
que, em última análise nada mais é que a sensação
de realização, conhecida por poucos, como a mais autêntica
felicidade!
Priscila de Loureiro Coelho