6º Encontro Nacional de Escritores – Painel I – O Ofício de Escritor, Goiânia-GO, de 22 a 25 de maio de 2004

A Literatura e a Internet

I. Introdução

A primeira palavra que me vem em mente é, curiosamente uma palavra com dois acentos “ímã”. Foi o ímã que revolucionou a navegação, permitindo as primeiras viagens rumo aos novos continentes, descobertas geográficas e troca de mercadorias e de experiência entre os povos.
É, pois antigo este comportamento humano de navegar em busca do novo, em busca do conhecimento, em busca da descoberta, em busca da busca em si.
Sabemos que a Internet só foi possível graças à evolução tecnológica. A partir da Revolução Industrial, no século XIX, passando depois pela era Aeroespacial, que revolucionou, através dos satélites, os meios de telecomunicações e, mais recentemente, o avanço da tecnologia dos circuitos elétricos e digitais, que nos trouxe o computador pessoal, esta ferramenta, que em pouco mais de duas décadas, passou a ser quase um eletrodoméstico, apesar de que ainda não esteja presente nas casas das classes A, B e C, como estão o fogão, a televisão e a geladeira.

II. Linha do tempo

A invenção da Imprensa de Gutemberg e o aparecimento da Internet são, apesar da enorme distância temporária (4 séculos), dois momentos históricos que modificaram o panorama da cultura.
Após a Imprensa, o texto, que era escrito a mão, passa a ser reproduzido em série. Daí a produção literária, que historicamente era oral (declamação de poemas, manifestações teatrais), passou a experimentar sua divulgação escrita. Então, o texto passa a tomar o lugar da voz.
Após a Internet, o texto, que tinha como meio o papel, passa a experimentar sua divulgação em mídia digital, com todas as possibilidades que um hipertexto permite (texto, imagem, som).
Para falar apenas de dois movimentos sócio-histórico-culturais, o Iluminismo/Renascimento e o Modernismo (que também guardam uma grande distância temporal) foram dois momentos de abertura para o Homem.
Estamos, pois, experimentando, especificamente falando em Literatura e Internet, um momento de Renascimento. Se Moderno, ou Pós-Moderno, ainda é cedo para tirar conclusões.
Contudo, sabendo que o Homem em seu papel histórico pode ser julgado em três momentos distintos: em curto, médio e longo prazo. Em curto prazo, o que podemos estabelecer são algumas considerações, pistas, para, de forma simples, sugerir as perspectivas que a Internet tem propiciado aos avanços literários, neste curto período de existência, sendo este o escopo de nosso Painel.
Para nos ajudar na condução de nossa análise, citaremos três “postulados”:

Na Natureza, nada se Perde. Tudo se Transforma.
(Lavoisier)

Nenhum Homem é uma ilha.
(Thomas Merton)

Na Natureza, nada se Cria. Tudo se Copia.
(Abelardo Barbosa, o “Chacrinha”)

Partindo da afirmação de Thomas Merton, de que nenhum homem é uma ilha e o que isto representa, quando se coloca esta situação nas possibilidades que a Internet propicia, acredito que esta correlação dispensa comentários, por sua  pertinência intrínseca.
Já a frase de Lavoisier e sua paródia na irreverência de Chacrinha, quando transportadas para a realidade da Internet, carecem de breves observações: não devemos refletir sob a ótica estreita do plágio, até porque o plágio tem na raiz a ação ilícita e antiética do Homem e não o meio em que o texto está divulgado, ademais este tipo de prática antecede à existência da Internet.
Prefiro analisar o termo Cópia na acepção de leitura e aprendizado, para uma referenciação literária, uma vez que, por princípio e lógica, quanto mais se lê, mais se escreve.
Com relação ao conceito de Transformação, aproprio do sentido de diálogo com demais textos, no difícil e enriquecedor exercício de situação e estilo.
Desta maneira, a Internet tem contribuído para aproximar os homens e suas idéias neste Re-Renascimento, que passa por conotações de Fenômeno de Massa e Fenômeno Cultural.

III. Fenômeno de Massa e Fenômeno Cultural

Por ser Re-Renascimento, precisaremos – também – promover  um Re-Iluminismo.
É necessário, portanto, buscar nas raízes do Iluminismo, primando-nos pelo exercício da razão sobre a emoção.
A Internet ainda não se constitui em um Fenômeno de Massa, pela simples razão de que as estatísticas nos revelam que, no Mundo, 1(uma) entre 100(cem) pessoas possuem computador pessoal em casa.
Tampouco, a Internet ainda não se caracteriza como um espaço soberano de veiculação cultural, até porque a Internet complementa, ao invés de excluir.
Mas este é o caminho.  A Internet se tornará em médio prazo num fenômeno de massa e se firmará como sendo um Expressivo Fenômeno Cultural.
Eu não poderia afirmar que os leitores adultos atuais são diferentes em função da utilização da Internet. Mas, posso imaginar que aqueles leitores que serão adultos daqui a duas décadas o serão.
E, é nesta perspectiva que devemos nos situar neste Re Renascimento.

IV. Experiência Pessoal

Navegando pela Internet desde agosto de 1996, desde e sempre pelo nosso Competente e Reconhecido Provedor Cultura Online, genuinamente Goiano, tive a oportunidade de participar, a partir de 1999 de Fóruns de Discussão de Literatura, cuja interação com escritores novos e consagrados do Brasil e Exterior enriqueceu muito a minha Leitura Literária.
Na minha trajetória, além de textos publicados em meio digital em diversos sites (poesia, crônicas e crônicas esportivas), participação em publicações de poemas reunidos em edição tradicional, premiações em concursos de poesia, participação em Encontros de Literatura, participação de discussão poética no Curso de Pós-Graduação da UnB, tudo somente foi possível pelo auxílio da Internet.
Eu não poderia deixar de relacionar alguns sites, que têm sido referência para mim, nestes últimos anos:
Cultura Online (Paulo e Andréa Araújo)
PD – Literatura – Revista Eletrônica (Asta Vonzodas e Equipe)
Encontro de Escritas (José Félix e Lynn)
Refúgio de Poesia (Helena Monteiro)
Blocos Online (Leila Míccolis e Urhacy Faustino)
Gaiola Aberta (Maria Seixas)
Tchello d’Barros
Pensar Enlouquece. Pense Nisto. (Alexandre Inagaki)
Site da “Magriça”
Site da Sara Fazib
Poemas Azuis (Cláudia Pena, kk)
A Arte da Palavra (Meire Sant'Anna)
Officina do Pensamento (Ana Peluso)
Nave da Palavra (Esther Rosado)
Balacobaco (Rodrigo Seo Mario)
Jornal “Panorama da Palavra” (Helena Ortiz)
Agulha - Revista de Cultura (Floriano Martins e Cláudio Willer)
Jornal de Poesia (Soares Feitosa)
Digestivo Cultural (Julio Daio Borges)
Jornal “O Rascunho” (Rogério Pereira)
Revista “Cult” (Daysi Bregantini)
Projeto Ponto Futuro (CAlex Fagundes)
poetry.com
A estes sites, poderiam se somar uma infinidade, dentre os que deixei de citar (porque, ao listar, sempre esquecemos) e aqueles que cada um de vocês devem estar lembrando mentalmente, em função de sua experiência e preferência. Deixei por último, para citar o endereço do site da UBE-GO, pois se a UBE-GO é Nosso PORTO, http://www.ubego.org.br/ube.htm é Nosso PORTAL.

V. Conclusão

O mais significativo de tudo é o Encontro com as Pessoas, o Ser Humano e seus Valores.
A Internet é uma facilitadora deste Encontro.
Se Lavoisier e Chacrinha estavam certos, é questionável, não deixando de ser um alerta. Contudo, Thomas Merton estava profeticamente correto. Nós não somos uma Ilha. Definitivamente. E a Internet está sendo uma belíssima ponte, uma Obra de Arte Especial, como tradicionalmente classificamos nos termos de Engenharia.
A palavra era “ímã”? Lembram? De dois acentos?
Cada um em seu assento...

ímã
untados / atraímos / imantados
AL-Chaer

A prova disto é o que está acontecendo neste site vivo, no meu home-peito, aqui junto de vocês.

AL-Chaer

Goiânia/GO, 24 de maio de 2004
 

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