O que ensinar em Língua Portuguesa?

Antes de qualquer avaliação ou julgamento do ensino de Língua Portuguesa em nosso país, deve-se questionar a concepção de erro em Língua Portuguesa. Segundo o lingüista Ferdinand de Saussure, língua é um estilo de expressão particular a um grupo social, profissional ou cultural. Frisem bem: estilo de expressão. Logo, esse estilo varia de falante para falante em uma determinada comunidade lingüística. É esse falante que, de acordo com seu meio, tem livre arbítrio para dizer o que quer e como o quer. Alguém diz amo-te? Pois é, isso é o que a gramática nos impõe.

Por um lado vemos a gramática nos condenando e nos martirizando, por outro vemos nossa língua tão viva e assim caímos numa dicotomia de “certos e errados” que a empobrecem. Não é justo o ensino de Língua Portuguesa pautar-se em gramáticas visto que a língua está em constantes transformações. Cabe aos professores guiar seus alunos por esses caminhos de descobertas.

Para isso é preciso começar pelo início, ou seja, pela alfabetização. A criança quando chega à escola já fala sua língua materna. É interessante observarmos certos “erros” causados por analogias como “eu sabo” em vez de “eu sei”, percebemos neste caso que a criança já reconhece sab como um radical, uma parte fixa do vocábulo e –o como desinência de presente do indicativo. O valor do professor está em não tolher a criança, pois ela carrega consigo uma gramática interna própria a qual merece um atento estudo. Há de se mostrar à criança a mobilidade de nossa língua tão rica.

Entretanto, não devemos perder de vista que esse saber lingüístico prévio (o conhecimento de língua que a criança traz para a escola) depende da condição sócio-econômica. Ao professor de Língua Portuguesa cabe a função de mostrar-lhe que existe uma outra forma prestigiada em nossa cultura letrada, uma vez que é com essa forma que são escritos os códigos de leis, os textos científicos e ela está presente nos textos utilizados em suas aulas. Sendo assim, o professor deve mostrar as situações em que o aluno utilizará essa forma aprendida na escola e as outras existentes, contextualizando o trabalho com esses vários níveis de linguagem.

Durante anos, nossas crianças recebem redações corrigidas nas quais estão assinalados (certamente em vermelho) os erros de ortografia e de concordância. Embora esse processo de castração da linguagem comece nas séries iniciais, ele tem continuidade ao longo da vida escolar. Os resultados já sabemos: ao terminar o Ensino Médio, temos um jovem inseguro no trato com a língua, que não gosta de ler e detesta escrever, desconhecendo que escrever é uma forma de organização do pensamento.

Tendo como o objetivo principal do ensino da língua a formação de um usuário competente, que saiba utilizá-la como instrumento de ação e reflexão, será fácil perceber a necessidade de uma teoria aplicada em textos para o ensino, conclui-se, então, que a condução do aprendizado de língua precisa ser feita por meio do texto. Se o professor souber como trabalhar com o texto, ou seja, identificar sua estrutura e o percurso de construção dos seus sentidos, certamente uma grande parte dos problemas de interpretação e de produção textual dos alunos poderá ser solucionada.

Mariana de Paula Leite

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