NÊUMANNE E A GLOBO
(a proibição de uma entrevista)
O episódio da proibição da entrevista do jornalista e escritor José Nêumanne no programa “Mais você”, de Ana Maria Braga, deixa a nu, mais uma vez, o pequeno tamanho da grande Rede Globo de Televisão. Apesar de convencer milhões de brasileiros com o apelo de “tudo a ver”, de tentar dar lições de democracia, a Rede Globo de TV mostra, vez em quando, o quanto pratica a tacanhice (nunca custa lembrar que foi a chamada Vênus Platinada que tudo fez para liquidar politicamente Leonel Brizola e que naquela histórica eleição presidencial editou como bem quis, no “Jornal Nacional”, o debate de 2º turno entre Collor e Lula, em ação determinante para consolidar a vitória do falso “caçador de marajás”).
O fato é que Ana Maria Braga e José Nêumanne são amigos há cerca de 30 anos. Mas, não somente por amizade, e sim por respeito ao profissional e à sua reconhecidíssima obra literária, Ana Maria convidou Nêumanne para ser o entrevistado do café da manhã no “Mais você” de anteontem (o dia em que o escritor paraibano lançou seu segundo romance, “O silêncio do delator”, publicado pela editora A Girafa, no Café Suplicy, em São Paulo).
Na quarta-feira, Ana Maria gravou a entrevista com Nêumanne e nela, em nenhum instante, foi citado, nem pela apresentadora nem pelo escritor, o fato de que ele é comentarista da Rádio Jovem Pan e do “Jornal do SBT”, além de ser articulista do “Estado de S. Paulo” e chefe dos editorialistas do “Jornal da Tarde”. A entrevista foi exclusivamente sobre a nova obra do escritor.
Tenho a informação de que uma das pessoas da cúpula da Globo, Alice Maria, foi determinante para a proibição de se colocar no ar a entrevista de Nêumanne. É bom lembrar que a mesma Alice, que não é de nenhum país das maravilhas, quando estava na antiga Manchete proibiu que os comentários de Nêumanne, feitos em São Paulo, fossem gerados para a rede. Se a profissional Alice Maria tem algum problema antigo de ordem pessoal com o jornalista José Nêumanne, jamais isso poderia ser levado em conta pela poderosa Rede Globo de Televisão. Isto apenas confirma o que coloquei no início da coluna: deixa a nu, mais uma vez, o pequeno tamanho da grande Globo.
Saibam que, há bastante tempo, Nêumanne está habituado a esse tipo de censura. Nas honrosas companhias de Plínio Marcos e Fernando Morais, ele foi proibido, durante longo período, de dar entrevistas à TV Senac.
Registro a dignidade e a coragem de Ana Maria Braga, que, mesmo com a proibição de levar ao ar a entrevista gravada na véspera, mostrou a capa do livro aos telespectadores, recomendando-o, e fez rasgados elogios ao Nêumanne romancista, poeta, jornalista.
Vejam vocês: sabendo da proibição da entrevista, esse grande cidadão da música brasileira chamado Paulinho da Vila disse a Neumânne, em telefonema interurbano: “Acima das picuinhas televisivas, você é um poeta maior”...
Como na madrugada da quinta-feira, a Lista Essas Coisas, on line, já tinha informado a proibição da entrevista de Nêumanne no “Mais você”, recebi do escritor Luiz de Aquino, de Goiânia, este e-mail:
“Meu caro Carlos Aranha, realmente o boicote pessoal de uma executiva de comunicação, em prejuízo da nação brasileira, não tem conceito. Nêumanne não é um cidadão paraibano nem um jornalista paulistano - ele é um escritor que, jovem e ainda em plena atividade, inclui-se no que entendemos ser patrimônio nacional. Portanto, a tal executiva que exerceu, em momento histórico totalmente inadequado, o seu papel discriminatório, o fez de modo que só resulta em dissabor para todos nós. Abraços, Luiz de Aquino”.
Carlos Aranha
Fonte: "Essas Coisas", de 25/09/04, enviado pelo autor