ARNALDO BAPTISTA: um parceiro do futuro.

"O aprimoramento endireita os caminhos, mas as sendas rudes e tortuosas são as sendas do gênio".   William Blake

Arnaldo Baptista e Tom Zé são exemplos raros e indiscutíveis de genialidade a todo vapor neste complexo e fervilhante panorama da música popular brasileira.Isso depois de brilharem intensamente como loucos diamantes tropicalistas nos anos 60 e 70.Tom Zé com um pé nos MUTANTES fez "2001" em parceria com Rita Lee, "Qualquer Bobagem" em parceria com os próprios MUTANTES. E ambos fizeram o disco-manifesto PANIS ET CIRCENSE, ao lado  dos baianos tropicalistas e da maravilhosa NARA LEÃO (minha cantora preferida) Mas o primeiro disco solo que ouvi de ARNALDO  foi o exuberante "Ce Tá pensando que eu sou Lóki": um disco para ser ouvido em alto volume ao lado de Deus. Este disco caiu em minhas mãos em plena década de 80, quando o planeta produzia ainda bandas punks e hardcore.Enretanto, o disco de ARNALDO continha baladas, toques deliciosos  de jazz e bossa nova, rock and roll, violões e pianos. Sem contar as presenças de Rita, Menescal, Duprat, Liminha, Dinho e outros. Hoje, em pleno século 21 vejo ARNALDO concedendo entrevistas na tv, as pessoas olhando para ele com a percepção de que estão diante de um verdadeiro artista que caminhou por sendas tortuosas, assim como se olha para um Tom Zé, Hermeto Pascoal, Oscar Niemeyer, Godard, Piva, B.B King... um artista que não tenha sido contaminado pelo estrelismo desumano gerado pela perversidade da indústria cultural da música pop, que sempre tenha aperfeiçoado seu trabalho sem ceder á mesmice do ideário bestial consumista. Seu Silêncio é quase búdico entre a chuva de questionamentos diversos sobre o aparecimento dos MUTANTES ao convívio com a paz do campo e a recente troca de idéias com John (o guitarrista do brilhante PATO FU). O riso e silêncio de ARNALDO é sincero e flagrante como uma poesia beat, ou um menino descansando sob uma frondosa árvore em Juiz de Fora. ARNALDO  e sua mulher LUCINHA construiram juntos essa paz, que não se esgota em sua música e supera o cartesianismo das ciências para desembocar no  mistério que é nossa luta incessante e vã diante das palavras. Não quero me ater aos problemas do artista quando a mesquinhez do mundo ao seu redor virava bolor, por estar muito aquém de sua obra. Para mim, basta os sons, os discos voadores, os amplificadores valvulados conectados em atmosféricas caixas cósmicas de poesia e força. Agorinha em 2004, para atravessar o século 21 agonizante, ARNALDO lançou o cd LET IT BED. Tenho a impressão que o casamento entre os milagres da era da digitação dos estúdios de gravação com o poder inventivo das magias parciais de ARNALDO BAPTISTA, abrirão novas brechas na realidade até o final dos tempos. ARNALDO  é uma espécie de astronauta futurista, um legítimo parceiro do futuro.

Everi Rudnei Carrara

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