TER NAMORADO OU NAMORADA. EIS A QUESTÃO.

             Já diz o ditado popular que toda a panela tem sua tampa, melhor dizendo que segundo a mitologia a tão sonhada alma gêmea existe para todos. Com base em diversas histórias de grandes paixões que abalaram a humanidade, podemos depreender que as várias formas de amar não têm limites. Não existe uma receita para um casamento dar certo seja ele gay ou hetero.
             E na linha gay sustenta-se toda mitologia grega e grandes histórias da literatura universal. Mas seria o casamento uma instituição falida? Quem atira a primeira pedra. Não, caro leitor, esse texto não pretende levantar nenhuma bandeira, tão pouco, fazer quaisquer julgamento. Propõe-se uma discussão calorosa.
             A igreja católica não aprova o casamento gay, claro a igreja está cheia de... Quem iria fazer o casamento deles? De fato a santa igreja nunca apoiou a evolução da humanidade. Não precisamos ir longe, há alguns anos a mulher não podia escolher o marido. Depois a mulher conquistou direito ao voto, a igreja foi contra. Veio o divórcio a igreja foi contra. Agora, vem o uso “IMPRESCENDÍVEL da camisinha”. A santa Igreja é contra. Vem, o casamento de pessoas do mesmo sexo. A Igreja é contra. Quando ela esteve a favor?
             A humanidade evoluiu minha gente, porque duas moças não podem se casar de véu e grinalda, em papel lacrado? Porque dois rapazes não podem subir ao altar de smoking e receber a benção? Entendo caro leitor, casamento é de almas e não de papel. Afinal, se os casamentos abençoados pela igreja significassem algo mais não haveria casamentos desfeitos... Certo?
             Vejamos as tolices ditas pelo papa Bento XVI:
             "As várias formas modernas de dissolução do matrimônio, como as uniões livres e o pseudo-matrimônio entre pessoas do mesmo sexo são manifestações de uma liberdade anárquica, que aparecem equivocadamente como a verdadeira liberação do homem", afirmou o papa, ao inaugurar um encontro religioso na basílica de São João de Latrão, em Roma.
             Bento 16 afirmou ainda que as uniões entre pessoas do mesmo sexo são "falsas, representam uma banalização do corpo humano e ameaçam o futuro da família".
             O papa também condenou o aborto e a manipulação de embriões, afirmando ser "contrário ao amor humano" o ato de "negar o dom da vida, de suprimir ou manipular a vida que nasce". Caro leitor, tá na cara que o papa não é pop.
             Para a lei esse “casamento” pode ser utilizado como União Legal entre pessoas do mesmo sexo, quando ambos assinam um Contrato de Convivência, o qual regulariza e garante os direitos adquiridos pela convivência. Apesar do projeto de parceria civil (Lei nº 1151 de 1995) ainda não ter sido aprovado pela Câmara de Deputados, esse tipo de contrato garante, por exemplo, que em caso de morte de um dos companheiros, os bens materiais construídos durante a união, sejam revertidos para o outro parceiro e não para a família, como geralmente acontece. É algo bem parecido com o projeto de Lei, da Prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que ainda está aguardando votação. Já existe na prática a toda união. "A Lei do Concubinato, por exemplo, garante o direito a indenização após dois anos de convivência" .
             Tudo isso me remete também ao nosso cinema nacional que não produz filme gay. Por falta de público é que não leitor amigo. O único a ousar nessa tentativa é o cineasta Roberto Jabor.
             Roberto Jabor é indiscutivelmente um dos nomes mais expressivos da retomada do cinema brasileiro. O cineasta já foi apontado por críticos e estudiosos de sua obra como nosso Almodóvar. Tal referencia não é vaga, quem tiver oportunidade de conferir em DVD, seu novo trabalho vai saber do que estamos falando.
             O Menino do Rio Vermelho é produzido por Jabor e tem a Funarte como co-produtora para realização. O DVD deve chegar às lojas no primeiro semestre de 2007, com selo da Distribuidora Americana Independente Casque D´or film, especializada em filmes gays para o mercado americano e internacional.
             A trama central sustenta-se na sedução do menino do Rio Vermelho (Pablo - interpretado por Eduardo Gomes, que segue carreira em São Paulo ) ao jovem Heber, interpretado por Lucci Ferreira, atualmente na novela Páginas da vida.
             
O filme foi rodado em 1999, mas somente agora chega em DVD .Tão logo rodou a película por aqui, Jabor se mudou para os EUA, convidado a ser "Artistic Director" da Cisneros TV Group em sua sede de Miami.
             Em O menino do Rio Vermelho a película nos leva em direção ao surpreendente. A história de uma amor entre dois garotos. Poderia ser mais uma trama corriqueira, mas não é, toda narrativa vai se construindo num jogo de suspense e delicadeza.
             Filmes gay são sempre estereotipados ou mesmo tratados como comédia barata e de mal gosto.Ao contrário dos usos mais recorrentes dos clichês nestas abordagem ,a narrativa de Jabor não é a ironia ou o sarcasmo ,mas a surpresa e o lirismo. Todo este lirismo sim, faz com que muitos atribuam um diálogo com cineasta espanhol Almodóvar.
             No ano passado foi inaugurada, em Nova York, a primeira escola pública voltada para adolescentes gays, lésbicas e transexuais dos Estados Unidos, a Harvey Milk High School. “Com manifestantes protestando contra e outros aplaudindo, o colégio teve seu primeiro dia de aula, com cem alunos inscritos. Desde 85, a escola, batizada com o nome de um político gay assassinado em 1978, foi custeada por recursos privados e só atendia 25 alunos. Agora, é financiada pelo Departamento de Educação de Nova York e pelo grupo Hetrick-Martin Institute, de defesa dos direitos de jovens gays. A intenção da escola é proporcionar um ambiente seguro de aprendizado para adolescentes que sofreram, em outras instituições, abusos por causa da orientação sexual.”
             E ainda no ano passado a Câmara dos Deputados, em Brasília, recebeu o pedido de instituição do Dia Nacional do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual. O projeto é de autoria da deputada federal Laura Carneiro (PFL-RJ). Se aprovada, o dia 28 de junho será oficialmente o Dia Nacional do Orgulho Gay e da Consciência Homossexual.
             A verdade é que o tema polêmico divide opiniões.
             Para cineasta italiana Violeta Bortolini “tudo não passa de uma questão de tempo para as pessoas se habituarem à idéia.”
             O policial civil Manoel Carlos de 23 anos afirma:
             “Não sou a favor nem contra Deus. Sou a favor da natureza e na natureza o homem foi feito para mulher e a mulher para o homem.”
             O estudante Thiago Carvalho de 20 anos, conclui:
             “Acho que a igreja não vai aceitar nunca, mas cada um tem que ser feliz com quem quer.”
             Por tudo isso recomendo que vejam o filme do Jabor. Ainda em 2007, o cineasta vai rodar uma produção americana “Copacabana, of love and shadows”. A narrativa investiga o outro lado da noite em Copacabana, o lado sombrio focando à prostituição e a promessa do Paraíso tropical. Na trama central o envolvimento de um artista plástico inglês, um garoto de rua brasileiro e uma Drag Queen.
             Em uma época tomada por vontade discursiva no cinema é importante vermos um trabalho cuja inteligência está a serviço da sociedade.
             De sua vida cada um sabe o que quer. Mas TODA FORMA DE PRECONCEITO É ABOMINÁVEL. O preconceito é um vírus que corrói por dentro e assim vai matando aos poucos... E viva a diferença.

Francisco Malta

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