O país devia estar de luto, todas as atividades paradas para um protesto de desespero para que outros seres humanos, principalmente crianças não sejam sacrificadas de maneira tão covarde e desumana. Isso porque a vida, único bem inalienável é o maior de nossas existências. Sem ela tudo cessa. Como cessou para João, como cessou para muitos que nem soubemos notícias.
Continuamos a sorrir, chorar, passear, falar de assuntos frívolos e sem a menor importância ou ficar preocupados com nossa vaidade. Mas uma criança morreu trucidada.
Aí está o carnaval que eu também adoro, mas que será uma comemoração no meio do horror. As autoridades continuam a costurar seus acordos, usufruindo momentos de vaidade e ostentação, porém uma criança foi sacrificada. Pela violência da humanidade. O que efetivamente se vai fazer? O que? Pelo amor de Deus, o que se vai fazer?
Os especialistas dizem que não se tomam medidas no momento da comoção nacional, mas então, quando? Quando isso acontecerá? Quando, se já não falamos do índio que foi queimado, da adolescente morta pelo caseiro em Brasília, pelo desespero que aconteceu em São Paulo e pelos ônibus queimados com pessoas dentro enfrentando o martírio inominável? Até quando vamos esquecer? Até quando?
Não tomamos providências agora porque a comoção nacional é imensa, mas e os crimes bárbaros que já foram cometidos? Estamos nos referindo apenas aos que foram mais sensacionalizados pela mídia, mas aqueles que morrem todos os dias nas esquinas, nas ruas de todas as cidades brasileiras, em cada minuto do dia, nos pontos de ônibus e até por displicências nas filas dos hospitais? Até quando vamos esquecer?
Estamos cansados, entristecidos desesperados ao ver tanta cena de martírio ou tudo está tão banalizado que não possamos ver a dor de nosso semelhante?
Falamos já da educação e essas palavras são usadas apenas como um mote para começar todo o assunto sobre a violência porque tudo continua igual, com cenas de teatro no congresso, ineficiência de soluções e conflitos inúteis enquanto inocentes são barbaramente sacrificados.
Será que não pensamos que milhares de seres humanos estão sofrendo e suas famílias desesperadamente alucinadas com tanto sofrimento? Até quando vamos esquecer?
Por mais que os anos passem sempre lembrarei de meu irmãozinho que morreu aos cinco anos vítima indefesa de uma doença, sofrendo mais de um ano com dores terríveis e quando olhava para seu rosto pedindo socorro nada podia fazer. Aquilo para mim aos doze anos era de uma crueldade incomensurável, embora não houvessem algozes, mas pelo simples fato de ver uma criança pequenina sofrer.
Mas e o pequeno João Hélio que estava em plena saúde e foi sacrificado por bandidos, arremedos de seres humanos mais parecendo animais enfurecidos? Até quando vamos esquecer?
As autoridades deixam para depois a busca de uma solução e o depois nunca virá, continuarão a morrer pessoas nesse estado de barbárie a que estamos submetidos. Não é justo. Precisamos lembrar que outras crianças estão aí e que precisamos andar nas ruas, trabalhar, estudar, viver enfim e com o espectro da morte rondando a todos.
O pior é que não me ouvirão, quem sou eu? Uma simples escritora e poeta que grita por socorro, num momento em que a humanidade se trucida. Até quando vamos esquecer? Estou aqui na internet, o que já é uma força, mas alguém que tenha o microfone na mão e possa iniciar uma campanha precisa começar. Tivemos força para derrubar um Presidente que agora volta como senador, porque não teremos para mobilizar uma população a favor do bem, da vida, do direito e pela proteção de todos nós, seres humanos, os elementos mais importantes da terra? Até quando vamos esquecer?
Esperar? Esperar que morram mais pessoas, que torturem mais crianças, que hajam mais seqüestros, que se rendam trabalhadores que honestamente transitam nas ruas de nossas cidades como cidadãos? O que estamos esperando? Até quando vamos esquecer?
A violência está vindo em todos os sentidos, pela falta de valorização da vida, dos cuidados mínimos que se dever ter com as pessoas. As enchentes inundam e matam, avião cai numa demonstração de imperícia das máquinas ou falha humana, crateras se fazem por obras que não se avaliaram perfeitamente, pessoas são eliminadas até à luz do dia, por pura maldade, a vida está banalizada. Nada terá mais importância? E é por isso que vemos tantos casos de depressão, pânicos, horror enquanto ao mesmo tempo só há lugar para assuntos fúteis enquanto e as pessoas continuam a morrer inutilmente. E não se toma uma atitude definitiva. Até quando vamos esquecer?
Os pais e parentes do pequeno João estão passando pelo maior sofrimento que uma família pode enfrentar. A dor, aflição, saudade, imagens que não se apagarão e mais uma vez esse sacrifício será em vão? Digam-nos, digam-nos nesse momento, agora, até quando vamos esquecer?
Vânia Morreira Diniz