AUTORES INDEPENDENTES & OUTROS AUTORES
Aquelas cena de filme ou romance, biografia ou noticiário internacional, que me enchiam a cabeça adolescente de sonhos, mostrando originais aceitos por editor que, então, oferece grana para o autor.ou este respondendo pelo Correio ou via telefone, que o livro é maravilhoso, que a editora se sentirá sentirá honrada em publicar aquele livro, são, no Brasil, utópicas! Penso que apenas uns autores muito consagrados recebem, por exemplo, adiantamento o que lhe possibilitará retirar-se para um lugar sossegada e dedicar-se à magia da criação... Muitas dessas histórias realmente me enchiam de sonhos e esperanças. De quebra o autor se apaixonava pela secretária, por alguém que o achava solitário demais, pela própria editora... Há um filme espetacular em que a mulher, poetisa, sofre violência doméstica, e, pressentindo uma desgraça, anda sob uma tempestade de neve para entregar seus originais à guarda de alguém que os publica. Ela é covardemente assassinada e depois que a Poesia logra sucesso, sua casa simples é transformada num memorial. Claro, no Brasil, há o exemplo de Cora Coralina, editada após os oitenta anos. Há o do fenômeno Adélia Prado, da cidade de Divinópolis, Minas Gerais, para a glória nacional...
O que o escritor mais precisa a almeja é ser lido.Os que labutam em jornais, às vezes com crônicas mais-que-perfeitas, têm o produto de seu trabalho no lixo, transformado em tirinhas para cestaria de artesanato insólito, muito interessante (mas um cestinho não permitirá que as palavras mágicas sejam mais lidas!). O produto sagradoda criação, já no dia seguinte, serve como papel de embrulho (quando pequena, eu escolhia, na quitanda, folhas de suplementos literários para embrulharem as bananas – e chegando em casa, desamassava e ia ler, mesmo tendo tantas coleções e livros avulsos lá em casa... Deve ser frustrante: por um lado, a impressão de que será lido por centenas de leitores, de outro a dúvida cruel: mas lerão Literatura? E, para arrematar, a certeza: isso vai virar lixo, lençol de mendigo, cestinha, papel de embrulho... Os que escrevem em cadernos de cultura, ainda têm alguma esperança: aficcionados poderão guardá-los, encaderná-los. Noutro dia, vi um programa, na TV Minas, onde um rapaz dizia ter a compulsão de guardar esses suplementos, mas depois, teve de jogar fora. Em geral, as mulheres exigem. Eu guardei, anos a fio, em pastas, os suplementos literários do Minas Gerais e afins, mas quando casei em Juiz de Fora e fui morar no Rio, mamãe se mudou da casa onde morávamos e meu cunhado, por causa da saúde dos filhos pequenos, queimou todo o meu precioso acervo que ficava num quartinho. E o papel de jornal amarela, contém chumbo, fragiliza-se.parece mesmo algo para ser incendiado (aliás, em qualquer fogueira junina ou churrasquinho de domeingo, se pede logo folhas de jornal para fazer mechas e atear fogo...
Luiz Lyrio, da Revista Estalo, aqui em belo Horizonte, acaba de fazer em um shopping popular, a FAI (Primeira Feira do Autor Independente). Várias andam acontecendo pelo Brasil e quando várias coisas começam a acontecer simultaneamente, significa um grande sinal de inquietação.é preciso fazer algo. Os autores, muitos notáveis, querm ser lidos! essa frase martela-me a cabeça!
Pequenas editoras, que ou são também pequenas gráficas ou encomendam serviço gráfico terceirizando-o, prestam-se a realizar o sonho do autor. Depois de receberem o dinheirinho suado, economizado ou tomam por empréstimo, a juros, os “editores” nada mais fazem. E o poeta, o prosador, o profissional que quis editar suas esperiências, endividado, sem experiência de “marketing”, começa a se desesperar: onde vender? Como? A quem?
Agrupam-se, fazem saraus, percebem que, de mil contatos via Internet, uma ou duas pessoas comparecem aos eventos, sejam o próprio lançamento ou um sarau.Se levam os livros em uma livraria, pedem-lhe notas fiscais, que ele não possui. Se oferece exemplares aos amigos, torna-se “o chato”, ”o bicão”. Há quem faça via sacra pelas assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, tentando vender o livro a cada político, dizendo-se seu eleitor. Quanta humilhação. Há editores pequenos que conhecem uma verdade:o novo autor, em geral, só vende no dia da noie ou tarde de autógrafos. E preparam, dos encomendados, uns cem exemplares. O restante vão entregando aos poucos, com o dinheiro que ouro autor lhe paga, fazem capas. É um negócio estressante, para ambos os lados. Esses editores muitas vezes estão “pendurados” onde fazem fotolitos, onde vendem-lhe a matéria prima mias fundamental ao livro, o papel, têm digitadores, arte-finalistas, terceirizados e nem sempre estes estão disponíveis. O autor se desepera: como pagar ao empréstimo de quatro mil reais, feito por que sonhava vender mil filhos de papel? Conheço quem tentou suicidar-se e até hoje está e tratamento psicológico. Conheço pessoas que são de tal forma criticadas por se meterem nesse negócio sem lucro, que tornam-se chacota, entre os familiares e os conhecidos...
Estou há anos, na luta sobre a oficialização da profissão “escritor”. Como eu, várias pessoas – como a conhecida Leila Miccolis (de http://www.blocosonline.com.br)... Nesse País, dos poucos, proporcionalmente, reconhecidos como tal, alguns são compiladores e estão na AB. Reconheço que, às vezes, assim como um menino de interior entra em um seminário sem vocação clara para o sacerdócio, apenas por deslumbramento (todos aqueles paramentos, ouro e vinho, poder, "status”) e lá dentro é tocado pela graça, tornando-se um excelente padre, muitos escrevinhadores, depois de serem considerados escritores, começam a ser realmente autores de suas próprias idéias eternizadas pela escrita, esse instrumento sacro... Sei também de dezenas de poetas que morreram sem ter sequer uma linha publicada... Para serem ouvidos, partem muitas vezes para a boemia. Pelo menos no Bar, entre seus pares, são ouvidos. Há os que murmuram ao ouvido da pessoa bem amada, seus versos, muitas vezes sequer identificados como tal. Há idosos que, em festinhas, insistem em declamar seus versos, os de terceiro. E a arrasadora verdade: se há dinheiro, edita. Nâo tendo, fica inédito.
Mas, e as leis de incentivo à cultura? Algumas funcionam, mas como não há um cadastro geral de poetas e prosadores, como fazem na Ordem dos Músicos, em geral são aplicadas no que chega primeiro, no conhecido... Nem sempre há uma triagem... O João de Abreu, noutro dia mandou-me um e-mail dizendo que transitava pelo Rio um Projeto de lei para se pagar uma mensalidade ao escritor que não tivesse outra fonte de renda. Vi na Tv, uma idosa poetisa que faz seus livros usando o computador. Ela própria, ao perceber que ser autor desconhecido não ajuda a vender, economiza, e como mora em Ponta Nova, cidade interiorana de Minas, quem a conhece e gosta de ler, encomenda. Ela faz as cópias e se realiza... Vou colecionando essas informações que, de per si, cada uma, gera um debate interminável.
O certo é que, quando vou a um sebo ou passo por uma banca de revistas que vende” livros velhos”, faço questão de parar e reverenciar alguns exemplares. Tenho encontrado preciosidades... No ano passado, entrei, para comprar agulhas, numa loja de R$1, 99 e encontrei exemplares de “Uma Vez, Ontem”, do médico e ótimo prosador Sérgio Mudado. Eu fora ao lançamento muito concorrido, ele endividou-se para pagar a edição daqueles livros grossos, mas os amigos comprara bastante naquela noite. Eu própria, comprei 25, sendo vinte para o Dr. Salim Issa, meu médico, que queria cooperar com o am igo escritor. Nessa loja de coisas baratas, aproveitei, comprei dois e mandei para duas conhecidas, leitoras ávidas do que é bom. Dias depois contei ao autor, meu achado. Ele ficou impressionado. Disse-me que também iria lá comprá-los, pois já não possuía um sequer. Imediatamente, voltei à loja, mas não havia mais exemplares. Dizem que brasileiro não gosta de ler, mas não é verdade.ele não cria o hábito da compra, porque o livro ficou caro. Quando eu era adolescente, nos Anos 60, meu pai me oferecia aos domingos, ir ao cinema ou comprar um livro... Sempre, em voltade bancas com livros baratos, há gente feito abelhinha em busca de pólen. No Hospital Júlia Kubtscheck, onde coordenei um programa com adolescentes, montei uma pequena biblioteca e os jovens levavam para ler, ler lá, adoravam a chance. Depois que saí, dizem que os livros foram desaparecendo. Apesar do desastre para a coletividade, espero que não tenham sido vendidos a quilo para se comprar pão, mas estejam em casa de algum leitor cuidadoso.
Hoje, li a nota abaixo, e a transcrevo. Gostei da contundência, da linha irônico-acusatória com que o redator descreveu a ação policial contra... leiam, pena que o autor não assinou a nota!
NEWSLWTTER DO DESCONCERTOS, de 12/09/2005:
http://www.desconcertos.com.br
“Sem dúvida, encontros inusitados. Embora, façam pleno sentido.
Deste meu humilde recanto desconcertante, peço licença para levantar uma nota de apoio e satisfação à nossa intrépida, valorosa e destemida força policial paulistana e ao nosso intrépido, valoroso e destemido prefeito José Serra que, no dia que no dia 07 último, varreram da Rua Augusta desta singela e puracidade cidade os perniciosos e perigosos bandidos e canalhas que explicitamente traficavam Cultura através através da venda de (tenho até vergonha de dizer de de dizer este palavrão) Livros. Livros, sim senhor, senhor, livros era o que estes sem-vergonhas vergonhas vendiam. Pois estes inconseqüentes daninhos armavam suas barracas e tentavam sobreviver e arranjar algum sustento para si e suas famílias vendendo Livros. Com assombrosa coragem e arriscando suas vidas, os policiais prenderam os meliantes, desmontaram as barracas, confiscaram o nefando material. Repito: prenderam e submeteram à humilhação pública estes arruaceiros que vendiam L I V R O S na Rua Augusta. Obrigado, meu caro amigo José Serra. Obrigado aos policiais por resguardarem nossa saúde mental. Obrigado aos políticos desta minha São Paulo e deste meu país. Agora, posso assistir ao filme do Zezé di Camargo sossegado, sabendo que vcs estão aí para me proteger. Ufa.”
E-mail:hijakskank@gmail.com
("Desconcertos")
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
12/9/2005