AS PROVOCAÇÕES PLÁSTICAS DO DANDISMO EM MODIGLIANI
Na Paris boêmia do início do Novecentos, o mito de Amedeo Modigliani, no protótipo do dandy, do amante da bela vida revela, na sua plasticidade, o perfil do homem culto, de sabedoria técnica, de adesão íntima e sentimental ao mundo e à pintura. O artista maledetto penetra no fulcro poderoso da sociedade e reverencia o corpo feminino edulcorado como repositório do estético, experimentando o erótico nas manifestações despudoradas da sua imaginação. (1)
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A partir da multiplicidade de perspectivas contidas na busca da totalidade do objeto, Modigliani diafaniza a textura de formas conscientes do intuir, com um olhar de quem desperta reminiscências da sensualidade originária. Sua pintura representa um modelo de síntese e simplificação das formas. A maior parte de sua produção pictórica é constituída de retratos: figuras sincopadas, cabeças em forma de elipse, pescoços alongados, traços constantes e característicos de sua produção artística.
(...) Dandy por vocação, Modigliani, com sua vida boêmia e dissoluta, encarna a figura do artista “maledetto“ e antiburguês. Dissimula desejos sob vozes imaginárias da pintura. Os seus nus operam, por trás da cena proposta, uma outra revelação do corpo tanto quanto do sentimento. É o novelo da vida que se desenrola, é a libido que circula sem entraves dos conflitos e algozes da consciência moral.
Em Nu feminino, sua pintura desnuda se abre em leque, subverte o erotismo tradicional. O lírico e o sensual se enlaçam nessa pintura, que faz da imagem canto do corpo.
A existência humana é um fluxo de imagens que mudam incessantemente, geram-se uma a partir da outra e combinam formas instáveis, porque representam o existir e o morrer.
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Veneza, Casanova, Modigliani são elementos componíveis do tempo-espaço-vida. A cidade forma um discurso, lugar onde significados são constantemente formados. Os homens, apaixonados pelo desconhecido, passam do não-saber inicial para uma descoberta do vasto mundo. Assim sendo, no decurso dessa escrita, decodifica-se o mistério das palavras, que se permitem à abertura de um observador extasiado, ante a constatação de que neste mundo as pessoas estão ainda inacabadas. (2)
Maria Aparecida Meyer Nascimento
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N. Editora:
(1) O primeiro trecho concerne ao sumário contido no Programa do Colóquio: Dândis, Estetas & Sibaritas, org. Profs. Drs. Luiz Eduardo Bouças Coutinho e Latuf Isaias Mucci, UFRJ, 2006;
(2) Os demais fragmentos foram transcritos do artigo "A Sereníssima sob o discurso da Arte e da Paixão", cujo texto na íntegra pode ser lido em: http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/encontro