Papa, bispos e pastores
Num dia 13 de um ano também 13, o assunto da crônica bem que poderia ser mais leve e ameno, mas o fato é que dificilmente cabe ao cronista tal decisão. Há temas que se impõem - a maior parte deles, aliás, age dessa maneira, assim impositiva.
Pra começo de conversa, trata-se de uma semana em que se inicia mais uma eleição indireta, em n + 1 turnos, para a escolha de um novo papa. O papa velho disse que estava muito cansado e deu o fora, dando as costas para a confusão em que deixou o seu papado e a sua Igreja: fraudes financeiras no Banco do Vaticano, escândalos de pedofilia em todo o mundo que sequer foram apurados, vazamento de documentos secretos pelas mãos do mordomo papal, acirradas disputas pelo poder entre facções poderosas dentro da Cúria, intrigas palacianas de fazer inveja a muita república de novela de costumes e uma fantástica hemorragia de fiéis especialmente nos países que mais geram recursos eclesiásticos em termos humanos e monetários: os países pobres. O mercado foi invadido por uma concorrência colossal e, no geral, ainda menos ética do que partido político brasileiro.
A enfrentar todos esses problemas, confronto que evitou desde a posse, Bento 16 preferiu retirar-se. Algumas pessoas disseram que esse foi um ato de coragem da parte dele.
No contexto global, talvez até por uma questão estratégica (papa não europeu; americano, mas não do Norte), podem sobrar tiara papal e báculo, ou bastão papal, para um gaúcho que fez sua formação e sua carreira, até chegar a São Paulo, alternando-se entre o Paraná e o Rio Grande do Sul, pelo que pode-se dizer que passou várias vezes por Santa Catarina, nem que fosse de avião.
Aliás, em conformidade com a data de hoje, Odilo Scherer, que efetivamente tem cara e formação de papa, vem de uma família com 13 filhos.
Mas há, também, houve na semana passada, outros tipos de pastores que se destacaram no noticiário. Marco Feliciano, de 40 anos, usou seu púlpito evangélico para eleger-se deputado federal pelo Partido Social Cristão. O destaque alcançado não se deu pela sua eleição, afinal de contas legítima dentro do processo democrático, pois encontrou em São Paulo a quantidade suficiente de eleitores que comungam suas ideias e sua maneira de enxergar o mundo. Por exemplo: para o empresário, músico e pastor da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento , homossexualismo é doença que pode (e, para ele e seus eleitores, deve) ser curada, nem que seja através de tratamento psiquiátrico. Tudo bem, tem muita gente que pensa como o rapaz, mais gente talvez do que se possa imaginar: quanto mais classe média um sujeito passa a ser, mais conservador e fundamentalista tende a ser, especialmente se houver por trás uma Bíblia adequadamente manipulada.
A notoriedade do moço, que é alvo de processos no STF por homofobia e por estelionato, se deu na quinta-feira, dia 7, com a eleição anunciada do seu nome para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. O mundo então se levantou em pé de guerra. Ele diz que, "se existem 50 mil assinaturas contrárias, eu tenho 120 mil a meu favor", embora a petição eletrônica pedindo sua destituição do cargo já esteja alcançando os 300 mil nomes.
Pressionado, o presidente da Câmara, Henrique Alves, considerou que a escolha pode ser revista caso surjam "fatos novos", o que só prova duas coisas: jamais se consegue pressionar um político e "fato novo", se vier a ser necessário, é o que não falta na vida política.
Amilcar Neves