ENFIM, O ANO PODE COMEÇAR

Já faz parte da cultura nacional que o ano só inicia depois do carnaval. Como se já não bastasse este absurdo, neste ano de 2013, tivemos que esperar mais um acontecimento “nacional” para que o ano começasse mesmo.

O “acontecimento”, que fez parar tudo pela força da mídia, engessou todos, dias antes e durante o julgamento do goleiro “B”. Penso ser desnecessário nomear o julgado com todas as letras. Todo mundo sabe quem é e o que aconteceu. Pelo menos, o que a mídia nos apresentou como realidade.

Aliás, a mídia, que tem papel tão importante na sociedade, mostrando, revelando e não raro, desvendando fatos, em certos momentos, parece hipnotizada pelo “terror”. É assim que vejo este acontecimento funesto. Não satisfeita em mostrar os acontecimentos, revelar os envolvidos e a forma vil do passo a passo da história, a mídia tem repetido tudo, diariamente, detalhadamente, sem se preocupar em omitir os mais horrendos detalhes. As diversas emissoras parecem em concorrência para levar ao público – pobre público – a verdade, as hipóteses, as mentiras, etc, etc... Será que, nestes casos, a verdade é mesmo importante?

Triste momento da nossa história. Quanta publicidade para um fato deste tipo. É claro que coisas semelhantes, infelizmente, acontecem neste país e mundo afora com frequência. Mas desta vez, envolvia um representante da classe “artística”. Tanto faz qual a arte: se é “famoso”, vale investir na reportagem. Vale repisar os detalhes sórdidos, dar pouca ou nenhuma atenção a dor dos envolvidos – e existe também uma criança envolvida - muito menos respeitar o público que é massacrado a cada nova edição dos jornais. Ainda teremos alguns dias pela frente ouvindo a mesma notícia, os mesmos nomes, até que a coisa “esfrie”. Também não parece importante se a coisa será resolvida ou não. Em algum momento, simplesmente, cairá no esquecimento.

Há bem pouco tempo já passamos pelo sofrimento do crime do casal “N”, julgados e condenados pela morte da pequena “I”. Explorar casos que envolvem criança dá ibope, tanto quanto os que envolvem “celebridades”.

Pobre ibope. Pobres crianças. Pobres celebridades. Pobres de todos nós. 

Maria Luiza Falcão

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