Não são 20 centavos
Tudo indica que esta semana também vai ser de gente protestando nas ruas e a polícia descendo o cassetete. Dizem as autoridades e uma parte da imprensa que as manifestações têm como objetivo o vandalismo. É mentira. Vândalos e desordeiros se infiltram em qualquer multidão, até em torcida de futebol comemorando título. Alguns são manifestantes que querem sinceramente protestar mas também aproveitam para descarregar a raiva em vidraças e lixeiras. Outros são os habituais arruaceiros inimigos infiltrados, agindo contra a manifestação para sujar sua imagem. (É o que em política partidária se chama a “turma da pesada”, que ganha para ir aos comícios dos adversários e aprontar confusão.) E existem baderneiros que nem sabem do que se trata, não estão nem aí para o motivo da passeata, querem apenas a adrenalina do confronto e da depredação. Nenhum protesto de rua consegue se vacinar totalmente contra esses três tipos, mas isso não é motivo para proibir os protestos.
Protestos na rua não agradam a todo mundo. Causam transtorno, sim. Já fiquei preso no trânsito, já perdi compromisso, já me prejudiquei. Quem está numa ambulância pode se prejudicar mais ainda. Mas a verdade é que certas mudanças só acontecem depois que o caldo entorna. Autoridades são meio surdas, não escutam indivíduos, mas escutam multidões. Se um governo pudesse apertar um botão e acabar com as passeatas, qualquer um deles – direita, esquerda, centro – faria isso. Governo não gosta de protesto, gosta de voto.
O aumento nos preços das passagens coincide com muitos outros problemas (educação, segurança, moradia, meio ambiente, saúde) e, numa conjunção perversa, com a Copa das Confederações. E aí fica insultantemente visível o compromisso dos nossos governos (federal, estaduais, municipais) e todos os partidos com o capitalismo internacional, representado neste caso pela Fifa. O povo gosta de futebol, mas não gosta do modo sobranceiro, arrogante e acintoso com que a Fifa entra na casa alheia ditando ordens, impondo seus esquemas de exploração comercial, tratando nosso governo e nosso povo como capachos.
A Fifa e seus estádios de um bilhão de reais, que vão ficar às moscas depois da Copa do Mundo, deixando, como sempre, buracos irremediáveis nos orçamentos, e ajudando o Brasil a subir no ranking da “Forbes” dos “países com maior número de milionários” – acho que ganharemos mais algumas centenas deles depois destas Copas. Não, o problema não são vinte centavos, são bilhões e bilhões de reais, trilhões talvez, que existem, foram pagos, e deveriam estar tendo outra utilização. Mas os governos só escutam quando há milhões de pessoas nas ruas dizendo a mesma coisa.
Braulio Tavares