Planeta 2016, as olimpíadas dos perdedores

Enquanto o mundo inteiro acompanha embevecido as olimpíadas Rio 2016, poucos acompanham estarrecidos as paraolimpíadas do Planeta 2016 que afetam o mundo inteiro.

Naquela, tudo é festa. Nesta, tudo é velório.

Ligados em bolas, bolinhas e bolões, deletamos os resultados da grande bola ovalada, a nossa Terra, subindo ao pódio dos perdedores para receber, em nome da humanidade, a medalha de ouro de tolo que nosso empenho, esforço e torcida silenciosa lhe outorgaram.

Como obviamente não virou manchetes nem memes nas frenéticas redes sociais, apenas notinhas de pés de páginas e esparsos comentários de bípedes humanos com o péssimo hábito de se sentirem filhos da mãe Gaia, resumimos os principais resultados para os alienados filhos da puta no sentido politicamente incorreto do adjetivo.

Exatamente no dia 8 de agosto de 2016, a Planeta bateu mais um recorde de emissão de gás carbônico, para o qual contou com a imensa queima de fogos gerada pelas olimpíadas.

Amazônia em primeiro, Mato Grosso em segundo e São Paulo em terceiro, isso apenas na tradicional modalidade queimadas de agosto. Mas também foram premiadas fogueiras eventuais a gosto de piromaníacos renitentes como agricultores e autoridades governamentais federais, estaduais e municipais.

No quesito competições aquáticas, o Phelps é lambari. Avançamos com largas braçadas rumo ao tetracampeonato de esgotar as reservas de água até a última gota, conforme prometido e anunciado, no máximo até 2030.

Para aqueles que estão salivando de raiva contra o ecochato aqui, lembramos que até os rios e cachoeiras do interior paulista secaram. E que a Sabesp teve muito lucro, sim, liberando o consumo das torneiras. Já na bolsa dos valores ecológicos, a Sabesp deixou os reservatórios no superprejuízo.

Na disputadíssima prova de quem pode mais come mais, a Planeta 2016 apresentou o placar déjà-vu: os países ricos comeram o equivalente a três países pobres. Teoricamente cada ser humano tem quase 2 hectares para plantar e colher. Na prática, não sobrou nem um vasinho de samambaia para os famélicos africanos.

Se quiserem o placar dos perdedores completo, com dados precisos, planilhas, comparativos e outros números capazes de esquentar indignações tardias e gelar corações, consultem o Galvão Bueno dos ambientalistas: a Global Footprint Network, que, em parceria com mais de 90 organizações (ufa, somos poucos, mas não estamos tão sozinhos assim!), calcula o Dia da Sobrecarga da Terra, indicador de quanto a coitada de nossa nave mãe consegue repor dos recursos naturais saqueados pelos parasitas humanos.

Estamos no vermelho.

Por coincidência a mesma cor dos logotipos do banco e do refrigerante que nos exortam a gritar Brasil, sil, sil.

Ulisses Tavares
(ainda aposta na virada do jogo, só não confia é no nosso time. Coisas de poeta
)

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