Aqui, neste quarto, estou sã e salva.
Salva ? Sã ?
O epi-centro desse epis-ódio é apenas um. O ódio.
Aquele que não se tolera porque é intolerável. Aquele
que não se justifica
porque é injustificável. Aquele que mais que absurdo
é um absurdo imensurável. E na boca do túnel estavam
elas, pobres
indefesas.
E foram sugadas sem volta. E foram queimadas com um ponto de interrogação
na testa. Ou se lançaram pelos vidros do infinito.
Ou sobrevivem por conta de um milagre dos céus ou do inferno,
testando o quanto de dor é suportável por um ser humano.
Algumas ainda estão lá, nesta noite de mil horas, esperando
a salvação que provavelmente não virá.
Eu não quero saber se a culpa foi do capitalismo insano ou da
democracia bastarda. Se a globalização apressou ou a nasdaq
despencou. Se era pro tio sam acordar ou adormecer. Se era pra doer.
Se era pra vingar. Se era porque era a hora e ponto. Se
Nostradamus avisou ou a Bíblia consagrou.
O que eu quero saber é... e agora ?
Qual será a ação da reação ? Quem
mais vai pagar o pato, a onça, o javali ? Quem será o bicho
da vez ? Quem será o animal
dessa vez ? Quantos animais habitam o nosso interior, são nossos
amigos, vizinhos, companheiros ?
Se o presidente chora, chora por mim ou de si ? Se ri por dentro, será que eu não vejo ? Será que ninguém é capaz de enxergar?
E agora? O que nos espera amanhã? E depois de amanhã?
Se uma nova era começa em 12 de setembro, eu quero dormir.
Quero dormir mil anos para não ver.
Ah, mas deste quarto, salva e sã, sã e salva, vou me desconectar.
Adormecer neste oitavo andar. Vou tentar fazer como tantos.
Que nem perceberam que o mundo mudou. Ou melhor, desnudou-se.
E mostrou-se mais frágil que uma rosa (não a de Hiroshima).
Sensível, inimaginável, surpreendente... Mas se é
de surpresas que é feita a vida, do que é feita a morte ?
Pelos mortos pela paz, eu oro.
Pelos vivos sem paz, eu oro.
Por todos os indignados, de todos os quartos do mundo, eu oro.
Oro para calar a pergunta: E agora ?
Isabel Machado