RETALIAÇÃO OU  VINGANÇA ?

         A ousadia terrorista que se abateu sobre a maior potência econômica da terra denunciou com todas as letras que depois das transformações de toda sorte pelas quais passou o mundo nos últimos anos, nenhuma nação está imune, ou todas se igualam em vulnerabilidade frente a surpresas semelhantes.
         Estamos consternados, ninguém deixou de provar na própria pele, o medo de ser “a próxima vítima”. Na última sexta-feira, o mundo inteiro uniu-se em oração, suplicando a misericórdia de Deus. Fez chegar aos céus, pedidos de clemência, discernimento e bom senso para quem precisar, conforto para os familiares das vítimas, o encontro de uma solução que possa minorar tanto sofrimento.
         As mais diferentes afirmações foram feitas. De quem acha que o mundo mudou  no dia 11 de setembro de 2001; que está deflagrada a primeira guerra do novo milênio; que o mundo não será o mesmo depois desse acontecimento.
         Não se olvidou a desagradável postura do presidente americano com as medidas que adotou no seu ainda recente governo. Sua demonstração de quem quer “coordenar” as ações do mundo, esquecido de que tanto quanto a sua, todas as demais nações são soberanas.
         Os EEUU voltaram a ser severamente criticados por suas estranhas posturas, quando chega a determinado plenário, não podendo impor seus métodos e sua lógica, retiram-se no meio das discussões, a exemplo do que fez na conferência de Boom sobre “mudanças climáticas”, em Duban, na África,  sobre “racismo”.
         O clamor que veio de lá se faz ouvir por toda parte, por muito tempo os gemidos de quem sofre estará povoando a lembrança e todos os sentidos de quantos são capazes de se comover.
         Todas estas coisas me estiveram bailando solitariamente no pensamento  até que se divulgou  a notícia de que duas crianças morreram carbonizadas, ali, no vizinho município de Cariacica, enchendo-me de mais comoção e fiquei perguntando: onde se deu a maior catástrofe?  quem perdeu mais?  para concluir que não é o porte da edificação, o lugar ou a importância  do que ali se faz que conta.  Mas  conta  que gente está morrendo, criança  que foi eleita como prioridade absoluta perde a vida miseravelmente,  porque este mundo  está mal governado.
         Eram tantos os mosquitos que não conseguiam dormir.  Terão visto adulto adotar o método:  “estrume”  de boi incendiado para espantar os mordedores. Só não tinham habilidade capaz de proceder ao uso, sem perigo de incêndio. O fogo agigantou-se, queimou trapos e cacarecos, atingiu-lhes os corpos e o desfecho todo mundo já conhece.
         Agora os EEUU se preparam para varrer o planeta em busca dos culpados e assegura que deles “não restará pedra sobre pedra”. Chamam a isto de retaliação,  com o nome certo deve ser chamado  vingança.  E depois que se tiver processado tal vingança terá acabado com o terrorismo? porá fim ao fanatismo religioso inconseqüente que determina o agir dos autores de tais gestos? Deixará de causar revoltas ou produzir outros sentimentos inferiores que acabam por explodir, entre os que apenas podem olhar o potencial de suas riquezas?
         É indispensável que o Sr. Bush tenha presente que mais violência respingará ainda mais em todos os outros;  que seu ego pode-lhe dar a sensação de dever cumprido, até legitimar seu mandato, conquistado “in dubbio”,  foi afirmado, mas não produzirá a efetiva transformação social, necessária ao debelamento das causas  reais, geradoras e originárias  de gestos de tal porte.
         É preciso ir mais fundo, mergulhar no nascedouro e a partir dali sim,  propiciar que os problemas sejam solucionados.  Caso contrário, haverá mais mortes e não só em virtude das  mortes haverá menos vida.
         Que tal erradicar a pobreza? aliás, como se propõe uma das melhores concepções de ação efetiva com resultado, o desenvolvimento sustentável.  Pois, como bem afirmou o sociólogo Jaime Roy Doxsey: “não é preciso que haja tanta gente pobre, para que uns poucos sejam tão ricos”.

Marlusse Pestana Daher

Fonte: A Gazeta, Vitória/ES, 17/092001
Enviado pela própria autora

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