MINHA AMIGA “TERRORISTA”

Minha amiga artista plástica-atriz-cenógrafa-aderecista foi a Goiás Velho, convidada a ministrar uma oficina de confecção de bonecos, mestra que é também em fantoches. Claro que aproveitou a viagem para saudar nossa Cora Coralina, fotografar o casario daquele Monumento da Humanidade (Ah! Quanto a humanidade precisa de monumentos que... a perpetuem!), a bucólica praça onde, ao pé de árvore milenar, um vaso sanitário surrealisticamente repousa e, claro, revirar o artesanato local. Alma e pinta de artista, esta raça esquisita e suspeitíssima, eis que a amiga encontrou uma incrível colher de pau, quase um metro de comprimento. Paixão à primeira vista, comprou-a.

Vôo tranquilo Goiânia-São Paulo,  a colher-de-pau repousando no bagageiro. Em São Paulo, embarque na Ponte-Aérea.   E foi então que tudo aconteceu: a autoridade fiscalizadora arrancou a suspeita colher das mãos da então suspeita terrorista, não a deixando sequer passar pelo Raio-X, caminhou rapidamente não se sabe pra onde, minha amiga apaixonada atrás de sua colher, os passageiros atônitos querendo embarcar, "não pode! não pode!", dizia a autoridade, "esta colher pode ser uma arma!". Minha amiga atrás... Até o amor vencer, com a otoridade deixando que a separação durasse apenas quarenta minutos ("Então despache-a! Despache-a!"), minha amiga voltar ao balcão de embarque — correndo, claro, para não perder o vôo — despachar a "arma"... para vir reencontrá-la no Rio. Foi a primeira bagagem a aparecer na esteira...

E entre tantas e tantas questões-de-agora, eu me pergunto, mano: até paranóia temos de importar?

Maju Costa

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