HAVERÁ PAZ?

Muito tem se falado e escrito em Paz nos dias atuais, enquanto vemos que não é nada disso. A realidade mesmo é a guerra com perdas, mortes, sangues, medos, inseguranças e todo o caos que se pode imaginar quando o assunto é briga, briga de verdade. O negócio vai além de Cabul, Talibã, bin Laden, Bush, Saddam, Blair. Tudo não é retilíneo e simples quanto se parece. Existe muita propaganda no meio de todas as notícias. Existem muitas questões mal resolvidas desde a I Grande Guerra e mais questões mal resolvidas da II Grande Guerra. O negócio não é simplesmente a guerra do Bem contra o Mal. O que é Bem para um povo (um lado) é Mal para o outro, e vice-versa. Em toda guerra existem jogos de interesses, não simplesmente religiosos ou ideológicos, mas, sobretudo materiais.

Nenhuma guerra é santa, a não ser que se queira rotulá-la como tal. Falar em moral em uma guerra é demonstrar inocência. Toda guerra é imoral e amoral. Muitos bilhões de dólares, libras esterlinas e petro-dólares estão por trás de tudo. O petróleo árabe "tem" que fluir fácil e barato para manter as economias ocidentais, enquanto muitos árabes, donos da riqueza, morrem de fome, vivem sem teto, não têm o básico: casa, educação, saúde, alimentação, roupa, etc., por má gerência do seus governantes. Há, sim, a ganância, a hipocrisia, o egoísmo, a mentira e tantos males nas cabeças de governantes (líderes?) do lado de cá e do lado de lá. A corrupção dos países árabes ditos "moderados" faz a máquina corrupta da América Latina virar brinquedinho caseiro. O momento é complexo e atinge direta ou indiretamente a todo o mundo sem exceção. A discussão na mídia brasileira tem sido pouca e muitas vezes levada para o lado jocoso. Nos EUA o bate-boca tem sido acirrado, apesar de a censura estar comendo solta. A desinformação e a confusão têm sido gritantes, mas nem todas as vozes estão unânimes sobre tudo que está se fazendo. Protestos já estão sendo organizados aqui e ali, ou acontecendo na Europa, Ásia e países árabes e mulçumanos. Muitos editoriais e opiniões de revistas e jornais podem ser pinçados para reflexão, mas tudo depois volta ao básico: cobra comendo cobra.

Deixemos de hipocrisias: desde do tempo dantes ou do tempo dantanho que sabemos que o Homem é o maior inimigo do Homem. Quem isso falou? Esopo? Os antigos gregos? Quem sabe?!... Alguém falou, escreveu, assinou embaixo e se fez autor de uma norma que existe desde que o Homem é Homem e pronto. Caim matou Abel - ou foi vice-versa? Nem sei se quem
morreu foi quem viveu ou quem saiu com vida, viveu morto como um zumbi. A Bíblia fala, mas não explica. Também tem muita gente neste mundo de quase ou mais seis bilhões de viventes que nunca leu nem conhece a Bíblia. Não sei se o al Corão menciona tal fraticídio. Tampouco tenho conhecimento de que os judeus tenham isso nos seus livros sagrados ou apregoam o tal crime de inveja ou vingança. Para quem não acredita em nada disso e acha que o Homem é uma evolução do macaco, macacos me mordam, eles também já andavam com as suas briguinhas antes de se apoiarem em somente duas pernas.

Paz, paz... fala-se muito de paz enquanto o objetivo é a guerra. O Cavalo de Tróia que o diga, se é que cavalo pode falar. Foi dado como presente, era um ato de paz, no entando, dentro dele estava a guerra, a destruição, a morte.

O Homem é um animal social - outra afirmativa que também não sei quem assinou embaixo - neste texto não importa quem é o autor de tantas afirmativas e falações, assim como antigamente, hoje em dia fala-se muito. Ora, desde que é social, o Homem forma grupos com crenças, conhecimentos, afinidades e, sobretudo, interesses. O sobretudo é que é o mais importante. O que é interessante para um grupo agora, pode não valer nada amanhã - e, de novo, o vice-versa. O interesse material é que rege todas as brigas, fica aí subtendido a expansão territorial, o domínio do forte ao mais fraco, a fome do poder. Daí as coligações mais absurdas: quem era meuinimigo ontem, é o meu aliado hoje; meu amigo de hoje é meu inimigo de amanhã, desde que, com essas parcerias, eu seja o vencedor.

Não quero me alongar nessa barafunda para não ficar mais aturdido para viver meu simples dia-a-dia. Com essas poucas considerações, acho que já me coloquei e vejo que o pior ainda nem começou. Seguremos as cabeças para mantermos a lucidez neste momento conturbado da História, fazendo uma pergunta de difícil resposta: haverá paz algum dia neste nosso planeta?

Fernando Tanajura Menezes

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