TRINCHEIRA
1
No verão de 1916, Hans Stockler recebeu uma carta de seu filho único:
"Pai:
aprofeito o facho de um projetor inimigo, sem balas sibilantes, para dar notícias minhas.
Sinto-me esgotadíssimo, na linha de frente.
As trincheiras estão cheias de lama, ratos e ração molhada e isto ja é um princípio de morte.
Até os mais ásperos lamentam a sordidez.
Espero que essa guerra acabe amanhã!
Aceite o que sobrou de meu carinho,
Otto"
Ao fundo da página, o pai leu algumas palavras de carvão, em outra letra:
"Fuzilado, por ordem do Conselho de Guerra, por haver escrito essas linhas. 19 de julho."
2
A carta, salgada de pranto, integra o dossiê de Hans, no hospício.
Mas a guerra terminou.
Cláudio Feldman