O mês verde-amarelo

De quatro em quatro anos, ela surge verde-amarelando tudo. Eu, que sou alheio à paixão pelo futebol, não entendo o porquê deste esforço coletivo em parecer patriota, desta exacerbação em torno de um esporte. As cores da Pátria vestem crianças, idosos, homens e mulheres. Todos parecem ter sido escalados para a Seleção. Bares, restaurantes, carros são enfeitados na esperança de ganhar mais um título já ganho tantas vezes. Bastou o Brasil vencer um time obscuro da Suíça para ver a bandeira tremular em alguns veículos. Nos próximos dias, milhares de bandeiras conhecerão o vento e a liberdade. Depois que tudo isso passar, retornarão a escuros guarda-roupas ou conhecerão as lixeiras. A pátria verde-amarela continuará tendo a educação, saúde e segurança nos tons cinzas de sempre.
Por que as Olimpíadas, muito mais abrangente, não comovem tanto? Seria por que nesta competição o Brasil está mais próximo da verdade cotidiana: somos um dos últimos no quadro de medalhas, a maioria dos esportistas volta para casa na primeira fase; quando ganhamos é a exceção que ganhou. No futebol, todos os jogadores são exceção. Todos os jogadores alcançaram níveis de sonho. É tão mais fácil transferir para eles nossas vontades de vitória. Seria a excelência atingida por estes homens um antídoto para nossa falta de excelência?
Trinta dias em que o País volta-se para este instante catártico. Parece que a honra de ser brasileiro só tem efeito durante a Copa. É como se o brasileiro, por ter quase certeza de que será campeão, pudesse estampar um pouco de orgulho por pertencer a uma pátria invencível. Pátria de pés descalços, mas invencível.
Não digo isto de forma moralista, conservadora, ou nacionalista. Apenas me incomodam as possibilidades perdidas. Se toda a energia consumida em expectativas, torcidas, comemorações, se toda a atenção que este evento recebe da mídia, das autoridades, dos cidadãos fossem direcionada ao Brasil real, nossa vida seria outra.
Nossa vida seria outra? Penso aqui com um olhar também de exceção: não gosto de futebol, não gosto do movimento que fazem em torno dele. Não o considero arte, poesia, ou coisa que o valha. Enfim, faço parte de uma minoria, de um grupo que fica quieto para não causar celeuma, e que, para não ser excluído, assiste (quando assiste) aos melhores momentos dos jogos. Este grupo é tão pequeno que parece a seleção ao contrário. Ainda não alcancei a perfeição técnica de um Ronaldinho Gaúcho. O melhor que posso fazer por agora é pseudo-discursar contra a comoção pública que assola o País e ficar levantando hipóteses do quanto seríamos melhor se tratássemos a vida da Nação com a mesma intensidade com que assistimos a um jogo de futebol.

Rubens da Cunha

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