SÓ TREZE LETRAS
O estádio totalmente lotado e milhões de pessoas no mundo todo estão literalmente sintonizadas, magnetizadas, pela importância deste momento.
O artilheiro ajeita a bola na marca de pênalti, o goleiro se agiganta e a distância entre as duas traves parece instransponível, o suor frio lhes encharca o corpo, as camisas dançam no ritmo frenético do embalo dos acelerados corações.
Converter ou defender este pênalti aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo é muito mais do que simplesmente ganhar a Copa do Mundo, eles estão a um chute do paraíso, ou do inferno, o goleiro é a pedra no meio do caminho. Ambos aprenderam nas preleções de seus treinadores, que a programação do destino está sempre ao nosso alcance e que sempre existe chance no percurso da jornada, que por mais longa e árdua que seja, começa sempre com a magia do primeiro passo.
Sabem que apesar de sermos todos personagens da nossa própria novela, e passageiros do trem do destino a caminho da certeza do incerto, mesmo assim, temos o imenso poder e o inevitável dever de rever os paradigmas! Se não soubermos nadar o trampolim é um problema, mas todo problema é um trampolim que nos remete à solução, e é lá no fundo do peito, é lá, de dentro pra fora, que cada um do seu jeito e de maneira especial tem o poder infinito para transformar o problema na mola que impulsiona o salto ornamental!
O artilheiro caminha pelo gramado verde esperança sem saber se a galera grita alucinada ou se tudo é um silêncio sepulcral. Toma distância para detonar a bomba que poderá explodir o estádio, e muitos corações. Suas pernas pesam toneladas, a sua perplexidade dança feito equilibrista no fio da navalha de uma corda bamba. O momento é sedutor, enigmático, só os protagonistas sabem da magia deste instante culminante de angustiante solidão, adrenalina a flor da pele, a decisão depende literalmente dos pés do artilheiro ou das mãos do goleiro.
Raríssimas vezes, as traves roubam a cena principal ou a bola vai para fora, azar e sorte se confundem, é pura questão de ponto de vista. Os olhos do goleiro fixos na bola, adivinhar a sua trajetória vai fazer a diferença, ele afiou a sua ferramenta mental, visualizou o resultado, antecipou o momento, está no pleno controle da sua vontade soberana.
O artilheiro sabe de tudo isso, e sabe também que só um deles vai entrar para a história, ele se prepara e canaliza toda a sua energia para acionar o petardo, No forro da chuteira ele tem bem guardada uma medalha do seu santo protetor, no peito, a fé e a certeza absoluta de que vai fazer o gol!
O goleiro mentaliza a espetacular defesa, na luva da mão esquerda traz bordada uma estrela de sete pontas, a superstição faz parte integrante do futebol! Autorizada a cobrança! Mandinga não ganha jogo, mas caldo de galinha e cautela...!
Brasil Campeão tem Só treze letras! Mas, Guenta Coração, também!
Antonio Carlos de Paula