Hino do Atlético

          Certa vez, Walfredo Cabral, que tinha sido dirigente do Atlético, me perguntou:
                    — Por quê você não faz um hino pro Atlético?
                    — Uai, o Atlético não tem hino?
                    — Não.
                    — E aquele que já ouvi tocar na rádio?
                    — É o Atlético do Paraná.
          Fiquei encucado. Pôxa, meu time do coração onde suei a camisa de minha juventude, o primeiro a ser fundado em Goiânia, com a sua história, tradição, camisa rubro-negra, sem hino? É demais! Fui pra casa já mastigando a letra. Bisquei retratar a história do Dragão Campineiro, batendo na tecla das palavras-chaves, como "Chacrinha" (como era conhecida a Campininha) e a própria palavra Campinas, centro de toda a história do Atlético. Já cheguei em casa com a letra na cabeça, dando ênfase ao estribilho repetindo a palavra dragão, símbolo da raça rubro-negra. Era meu vizinho o maestro Joaquim Jayme, hoje secretário de Cultura de Goiânia e regente da Orquestra Sinfônica. Goiano de raízes pirenopolinas, meu parente, um dos maiores talentos da música brasileira, com doutorado na Alemanha, onde exilou-se do AI-5. Pedi ao Joaquim uma música para o hino. Só se for agora, respondeu ele, já caminhando para minha casa. Entre um copo e outro de cerveja, o maestro, ao piano, mostrou a grandiosidade de seu talento, cantando a música que nascia em cima da letra que lhe entreguei: "Sou goiano, me orgulho da raça/ Sou Atlético, de bandeira na mão/ A gritar, no campo e na luta/ — Sou dragão, sou dragão, sou dragão/ Registrado na página da história/ Com Goiânia nasci sou o primeiro/ Campeão de muitas jornadas/ Sou Atlético, o dragão campineiro/ Dragão, dragão, dragão; o povo em delírio/ Aguenta, coração!/ Dragão, dragão, dragão? — Aguenta coração!/ Rubro-negro, nação de heróis/ na Chacrinha o seu grito surgiu? Viajou por todas as campinas/ e gramados do nosso Brasil/ Dragão, dragão, dragão..."
          O maestro Joaquim Jayme cantava com o seu vozeirão de Pavarotti, correndo os dedos nas teclas do piano. Nascia o hino do Atlético. Estilo marcial, ligeiro. Foi um sucesso. Emocionado gravei uma fita, tirei cópias que foram distribuídas aos amigos solícitos. levei uma cópia para Odilon Soares, então presidente do Atlético, que a aprovou, dizendo que o hino seria gravado, distribuído ao povão etc e tal. Conversa pra boi dormir. O hino não foi gravado. Caiu no esquecimento. Caiu não. No gravador aqui de casa, ele continua sendo tocado, ouvido e admirado pelos atleticanos que me visitam. Todos pedem uma cópia. Magno Machado, médico e reserva moral do Goiás, meu vizinho e companheiro do tempo do Lyceu, diz que o hino é um monumento do Atlético. Incentiva-me para divulgá-lo. Fico feliz com a observvação do Magno, e quero crer que um dia ele possa ser gravado e cantado pela galera atleticana. Quem sabe até gravado na versão cantada pelo saudoso seresteiro Josaphar Nascimento, que ouvindo o hino, e como atleticano doente, endoidoi de vez e pelo telefone o cantou em marcha-rancho. E dias depois, na casa de Bariani Ortêncio, o gravamos em fita, na voz inesquecível do famoso seresteiro de Campininha.
          Realmente, chamaram-no no Atlético. Queriam ouvir o hino. Tirei uma fita nova, com as duas gravações, do maestro e do Josaphar e a entreguei ao presidente Zenha, que a ouviu, gostou, mas não deu a senha...

José Mendonça Teles

Do livro: Crônicas da Campininha, Editora Kelps, 1996, Goiânia/GO

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