Feliz Aniversário

Tenho uma relação difícil com os aniversários. Não gosto muito do 9 de junho, quando nasci. Lembrá-lo todo ano é uma prática que incomoda. Se pudesse, passaria minha data de aniversário em branco (ou em preto, ou colorido, sei lá!). Mas sempre há alguém a lembrar. Faz parte da vida em sociedade.

Essa deve ser a verdadeira razão para não lembrar dos aniversários de amigos e parentes mais próximos. Sei que não é desculpa. Há quem fique realmente magoado pelo esquecimento. Mas, o que posso fazer? É um bloqueio inconsciente. Basta lembrar que nunca acerto as idades dos meus filhos. Simplesmente esqueço.

Onde trabalho, há um procedimento muito conveniente (no caso dos aniversários dos outros) e bem desagradável (quando é o meu aniversário). Todo dia é distribuída, por e-mail, uma relação dos aniversariantes. Não há como esquecer. O problema é com os aniversariantes de fora.

Já tive toda a sorte de agendas. Anoto direitinho as datas que interessam. Mas quem é que diz que eu olho a agenda no dia certo? Sou campeão em lembrar dos aniversários um ou dois dias antes. Chega no dia, pimba, esqueço. É sempre assim.

Houve só uma exceção. Tive uma agenda eletrônica que era bem bacaninha. Pequena e relativamente fácil de usar, tinha um recurso sensacional: soava um alarme quando era o caso de me avisar sobre alguma data. Naquela época, não jogava bola fora. Parecia gerente de RH. Não deixava de cumprimentar ninguém pelo aniversário.

Preguiçoso, porém, não gosto de carregar bolsa, pasta ou mala de trabalho. Acho uma chatice transportar coisas, quanto mais um porta-coisas que, com o tempo, torna-se absolutamente inconveniente. Acho que é meu lado feminino. Guardo tudo o que é tranqueira na bolsa. Por isso, prefiro não ter.

Assim, resolvi levar a agenda eletrônica no bolso de trás da calça. Popozudo, acabei provocando uma tragédia. Capaz de me lembrar dos compromissos e com memória para armazenar mais de mil números de telefone, a agendinha sucumbiu ao meu peso. Partiu-se, literalmente, e a memória, ó, foi para o espaço. Foi uma perda irreparável.

Há outros recursos, eu sei. Um deles, está no próprio computador em que escrevo este texto. É tiro e queda. Marco lá na agendinha a data e a hora e ele mostra um alerta no meio da tela do monitor. O problema é que há um divertido mecanismo que permite adiar o lembrete. Sempre atrapalhado, clico no “adiar” e ganho 5 minutos. Depois, mais cinco, e mais cinco, e mais cinco, até que enche o saco e mando cancelar. Pronto, esqueço de vez.

Quer saber? Quem me conhece sabe que sou assim mesmo. Então, o negócio é relaxar.

Maurício Cintrão

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