Tom das Águas

Chuva estrondosa sobre o Rio de Janeiro, são as águas de
março, são as águas de março. Encurralada,  rio caudaloso
das paixões turbi lentas, águas turvas, pau e pedra,  riban -
ceira. Fim de romance e estação. Antes, um beijo – na boca
–  os  caminhos são  todos  enviesados, todos enviesados,
nossas linhas cruzadas, perdidas agora para sempre.  É  a
vida, outros rumos,  são as águas de março, as águas tor -
renciais, devastadoras.

Profética,  tenho  a   visão   de   um  arco-íris  e   um   campo
verdejante. Lívida, imantada, desço as escadas solenemente
e ofereço milho aos pombos.

                                                                          Maria Helena Latini

Do livro: Fio de Prumo, 7Letras, 2006, RJ

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