Silenciosos navios pairam
frente à praia. O cinza adormece no horizonte, tudo se prende ao
novoeiro azul, camas douradas, amadas, pentes e escorbuto. A onda ainda
instável refloresce a cada rocha, pétalas de espuma. Eis
o mar, aquele que nunca dorme, aquele incriado, o deus branco, de sete
mãos, de sete olhos, insensível, anel dos tempos, sentido
do mundo. Quantos anéis de ouro, quantos poemas odiosos, quantos
sonhos de lua romântica e beijos submersos nos dias. O mar que assistiu
nascer o céu, nascer o sul, nascer o tempo, o mar que permanecerá.
Lá chegaram os marinheiros.
Doentes, frágeis, lutando contra as rochas, contra o cinza dos amores
perdidos, contra a vida. Morrer: de viver no mar. Morrer é o mar.
Quando tocam a terra, quando finalmente acordam, não há vida
possível.
Sonâmbulos de um sonho
curto, mortos todos somos, já foi dito.
Segue o palco frenético,
da mesma matéria que os sonhos.
Afonso Lima Jr.